que presságios nos céus de tempestade ou nas vísceras dos pássaros; mas nós
sabemos que é um mês de março ameno, com pancadas de chuva de vez em
quando, na noite passada um pouco de vento que arrancou alguns tetos de palha
nos subúrbios. Quem diria que nesta manhã mataremos César (ou César a nós,
que os deuses nos livrem!)? Quem acreditaria que a história de Roma está
prestes a mudar (para melhor ou para pior, o punhal decidirá) num dia
preguiçoso como este?
O temor que me invade é que, apontados os punhais contra o peito de César,
nós também comecemos a postergar, a avaliar os prós e os contras, a esperar
para ver o que ele vai responder, a decidir o que contrapropor, e enquanto isso as
lâminas dos punhais comecem a pender moles como línguas de cachorro,
derretendo como manteiga ao sol contra o peito estufado de César.
Mas por que para nós também acaba parecendo tão estranho o fato de
estarmos aqui fazendo o que devemos fazer? Não ouvimos repetir durante a
vida toda que as liberdades da república são a coisa mais sagrada? Toda a nossa
vida civil não estava orientada para vigiar quem quisesse usurpar os poderes do
Senado e dos cônsules? E, agora que estamos perto do desfecho, eis que, ao
contrário, todos, os próprios senadores, os tribunos e também os amigos de
Pompeu, e os sábios que mais venerávamos, como o próprio Marco Túlio,
põem-se a fazer distinções, a dizer que sim, César altera as regras republicanas,
fortalece-se com a prepotência dos veteranos, gaba-se dos dignitários divinos
que lhe caberiam, mas também é homem de passado glorioso e, para fazer a
paz com os bárbaros, tem mais autoridade que qualquer outro, e que a crise da
república só ele pode resolvê-la, e que, em suma, entre tantos males César é o
mal menor. E além do mais, imaginem vocês, para as pessoas César é ótimo,
ou, em todo caso, elas estão pouco ligando, pois é o primeiro dia de festa em que
o lindo tempo primaveril leva as famílias para os campos com as cestas de
piquenique, o ar está ameno. Talvez não haja mais tempo para nós, amigos de
Cássio e de Bruto; acreditávamos passar para a história como heróis da
liberdade, imaginávamo-nos com o braço levantado em gestos estatuários, mas
não há mais gestos possíveis, nossos braços ficarão retesados, as mãos se abrirão
um pouco em movimentos precavidos, diplomáticos. Tudo se prolonga além do
necessário: mesmo César está demorando a chegar, ninguém tem vontade de
fazer nada, nesta manhã, essa é a verdade. O céu está apenas riscado de tênues
flocos de nuvens, e as primeiras andorinhas se lançam, em torno dos pinheiros.
Nas ruas estreitas há o chiado das rodas que batem no calçamento e rangem
nas curvas.
Mas o que está acontecendo na porta de lá? Quem é aquele grupo de
pessoas? Pois é, eu me distraí com os meus pensamentos e César chegou! Eis
Cimbro que lhe puxa pela toga, e Casca, Casca já retira o punhal vermelho de
sangue, todos estão em cima dele, ah, eis Bruto, que até então ficara afastado,
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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