A DECAPITAÇÃO DOS CHEFES
1
No dia em que cheguei à capital devia ser a véspera de uma festa. Nas
praças estavam construindo palanques, içando bandeiras, fitas, palmas.
Ouviam-se marteladas por todo lado.
— A festa nacional? — perguntei ao homem do bar.
Ele apontou a fila dos retratos às suas costas. — Os nossos chefes —
respondeu. — É a festa dos chefes.
Pensei que fosse uma proclamação dos novos eleitos. — Novos? —
perguntei.
Entre as marteladas, os alto-falantes que eram testados, os chiados das gruas
que levantavam catafalcos, eu devia, para me fazer entender, lançar frases
breves, quase berrando.
O homem do bar fez um sinal negativo: não se tratava de novos chefes, já o
eram havia algum tempo.
Perguntei:
— Aniversário de quando chegaram ao poder?
— Uma coisa assim — explicou um freguês ao meu lado. —
Periodicamente, é o dia da festa, e é a vez deles.
— É a vez deles, de quê?
— De subir no palanque.
— Que palanque? Eu vi muitos, um em cada cruzamento.
— Cada um tem um palanque. Os nossos chefes são muitos.
— E o que fazem? Discursos?
— Não, discursos não.
— Sobem, e fazem o quê?
— O que quer que eles façam? Esperam um pouco, enquanto duram os
preparativos, depois a cerimônia se encerra em dois minutos.
— E vocês?
— Olhamos.
No bar, era um entra e sai: carpinteiros, operários que descarregavam dos
caminhões objetos para a decoração dos palanques — machados, toras, cestos
— e paravam para tomar cerveja. Eu dirigia minhas perguntas a um e era
sempre outro que respondia.
— É uma espécie de reeleição, em suma? Uma reconfirmação dos cargos,
digamos, dos mandatos?