Um General na Biblioteca

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Seria fácil! A pessoa dirige, dirige, depois, como se nada houvesse, para e
volta para casa.
Um disse:
— Nesse caso, vou lhes dizer, todos quereriam ser chefes! Eu também,
sabem, estaria disposto, olhem-me aqui!
— Eu também, eu também — disseram muitos, rindo.
— Eu, de jeito nenhum — disse um de óculos —, assim não: que sentido
teria?
— É verdade. Que prazer haveria em ser chefe dessa maneira? —
intervieram várias vozes. — Uma coisa é fazer esse trabalho sabendo o que nos
espera, outra é... mas se não for assim, como seria possível fazê-lo?
O homem de óculos, que devia ser o mais culto, explicou:
— A autoridade sobre os outros é uma coisa que só existe junto com o direito
que os outros têm de fazer você subir num palanque para ser morto, um dia não
muito distante... Que autoridade teria um chefe se não vivesse cercado por essa
expectativa? E se não a lêssemos nos olhos dele, essa expectativa, o tempo todo
em que dura o seu mandato, segundo após segundo? As instituições civis
repousam sobre esse duplo aspecto da autoridade; nunca se viu civilização que
adotasse outro sistema.
— E no entanto — objetei — eu poderia lhe citar casos...
— Digo: verdadeira civilização — insistiu o homem de óculos —, não falo
dos intervalos de barbárie que duraram mais ou menos longamente na história
dos povos...
O velho sentencioso, que antes tinha falado das frutas nos galhos,
resmungava alguma coisa para si mesmo. Exclamou: — O chefe comanda
enquanto está amarrado ao seu pescoço.
— O que o senhor quer dizer? — perguntaram-lhe os outros. — Quer dizer
que, se por hipótese, um chefe ultrapassa seu prazo, digamos, e não lhe cortam
a cabeça, ele fica ali dirigindo, a vida toda?
— Assim eram as coisas — o velho assentiu — nos tempos em que não
estava claro que quem escolhe ser chefe escolhe ser decapitado a curto prazo.
Quem tinha o poder o guardava bem guardado...
Aqui eu poderia ter intervindo, citado exemplos, mas ninguém prestava
atenção em mim.
— E então? Como faziam? — perguntavam ao velho.
— Deviam decapitar os chefes à força, contra a vontade deles! E não em
datas estabelecidas, mas só quando realmente não aguentavam mais! Isso
acontecia antes que as coisas estivessem combinadas, antes que os chefes
aceitassem...
— Ah, gostaríamos de ver se eles não aceitassem! — disseram os outros. —

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