Aventuras na História - Edição 195 (2019-08)

(Antfer) #1
Mas a frustração de Hitler seria amenizada
com uma solução em dois tempos. Em março do
ano seguinte, ameaças militares dos nazistas,
com envio de tropas na direção de Praga e uma
banana para os acordos de paz, dariam à Ale-
manha o “protetorado” do que restava do país
vizinho. “Este é o dia mais feliz da minha vida”,
o Führer diria a suas secretárias. “Consegui a
união da Tchecoslováquia com o Reich. Serei
lembrado como o maior alemão da história.”
As potências europeias mais uma vez não
agiram em retaliação. Mas a ocupação da Tche-
coslováquia mudou definitivamente a percepção
de britânicos e franceses em relação a Hitler. Até
então, eles achavam que poderiam apaziguá-lo.
Daí para frente, sabiam que precisavam detê-lo.

CORREDOR POLONÊS
Vale registrar que, incluindo a conquista da
Tchecoslováquia, os nazistas vinham conseguin-
do dominar Estados menores vizinhos sempre
com base na ameaça do uso da força, mas sem
efetivo derramamento de sangue. Tudo mudou
quando Hitler estabeleceu seu próximo objetivo
expansionista: a Polônia. O pretexto novamente
eram as injustiças do Tratado de Versalhes. O
acordo forçara a Alemanha a ceder a cidade de
Danzig e o chamado Corredor Polonês – uma
faixa de terras que dava acesso ao mar para a
Polônia, ao mesmo tempo que deixava a Prússia
Oriental separada do Reich. Danzig tinha uma
população 98% alemã, favorável à anexação, e só
1% polonesa (mais 1% de cidadãos de outras
origens). Em sua política que unia expansionis-
mo e revisão do tratado pós-Primeira Guerra,
Hitler queria essas terras de volta. Mas a intimi-
dação que funcionara tão bem na Áustria e Tche-
coslováquia não surtiria o mesmo resultado
desta vez. Os poloneses não abriam mão de seus
territórios. Estavam mais confiantes graças a um
acordo com a Inglaterra, firmado justamente
para frear os impulsos nazistas. O problema é
que o líder alemão que eles enfrentariam estava
mais autoconfiante do que nunca. A sucessão de
triunfos tinha sido um combustível e tanto para
a megalomania de Hitler, que agora vivia se com-
parando em público a ninguém menos que Na-

poleão. Seus instintos agressivos também esta-
vam num ponto nunca visto antes. Em maio de
1939, numa reunião com seu comando militar,
o Führer antecipava o que tinha em mente para
os conflitos que estavam por vir – um raciocínio
que já incluía franceses e ingleses entre seus
prováveis oponentes: “Não haverá mais chance
de recuo e não será mais uma questão de certo
ou errado, mas de ser ou não ser”.
Quando, em 1º de setembro, a Polônia come-
çou a ser bombardeada pelas tropas nazistas, a
Alemanha entrava enfim numa contenda global
que seu povo não queria – ainda era fresca a me-
mória dos horrores da Primeira Guerra, que ti-
vera um custo tão alto aos germânicos. Muitos
dos comandantes das Forças Armadas nazistas
também achavam que essa era uma ação prema-
tura, que seu líder estava jogando o país num
combate que teria melhor prognóstico se adiado
por uns seis anos. O que ninguém tinha dúvida
era de que os motivos para a Segunda Guerra
Mundial se concentravam na vontade inabalável
de um indivíduo. Era essa a linha de raciocínio
do então primeiro-ministro britânico, Neville
Chamberlain, que expôs na Câmara dos Comuns,
imediatamente após a invasão da Polônia, sua
resignação quanto à impossibilidade de evitar
um conflito de dimensões inimagináveis. “A
responsabilidade por essa terrível catástrofe re-
pousa sobre os ombros de um único homem: o
chanceler alemão, que não hesitou em mergulhar
o mundo na miséria para servir suas próprias
ambições absurdas.” Dois dias após a primeira
agressão nazista ao território polonês, 80 anos
atrás, Inglaterra e França declararam guerra à
Alemanha de Adolf Hitler. E o capítulo mais
importante do século 20 começava a ser escrito


  • uma história que terminaria com mais de 70
    IMAGENS GETTY IMAGES milhões de mortos, a maioria civis inocentes.


QUANDO A POLÔNIA FOI


ATACADA SURGIU A CERTEZA DE


QUE A GUERRA ERA A VONTADE


DE APENAS UM ÚNICO HOMEM

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