Aventuras na História - Edição 195 (2019-08)

(Antfer) #1
UM RETRATO DA FRAGILIDADE
HUMANA DIANTE DA NATUREZA
POR IZABEL DUVA RAPOPORT

O


sentimento de tensão é inevitável. Uma
monstruosa onda prestes a engolir três
barcos de pesca à deriva e suas tripula-
ções. Ao fundo, no horizonte, o Monte Fuji co-
berto de neve, também pequeno diante da imen-
sidão – e da ameaça – do mar: um cenário que
deixa clara a tamanha fragilidade do homem
quando está exposto à força da natureza.
Criada no final da década de 1820 pelo artis-
ta japonês Katsushika Hokusai (1760 – 1849), A
Grande Onda de Kanagawa, também conhecida
como A Onda, é uma das obras de arte mais
reproduzidas no mundo. E certamente a mais
famosa xilogravura, o método que entalha cui-
dadosamente a arte em pranchas de madeira,
pinta o relevo com tinta e depois transfere o
desenho para o papel, como se fosse carimbo.
Entre os estilos de xilogravura está o chama-
do ukiyo-e (retratos do mundo flutuante, em
tradução livre), um gênero adotado por Hokusai,
nesta obra de arte, que prosperou no Japão do
período Edo (atual Tóquio; 1603 – 1867). A
Grande Onda, aliás, faz parte da série que mais
trouxe fama ao artista: Trinta e Seis Vistas do
Monte Fuji. “Se há uma obra de arte que fez o
nome de Hokusai, tanto no Japão quanto no
exterior, ela deve ser uma pintura desta série
monumental”, concluiu o historiador Richard
Lane. De seu molde, foram feitas milhares de
cópias, que hoje estão espalhadas – e seguem
celebradas – pelos quatro cantos do planeta.

IMAGEM METROPOLITAN MUSEUM OF ART


A ONDA


1
A composição do artista,
com medida de 25 centímetros
de altura e 37 centímetros de largura,
tem como elemento dominante o mar
agitado por uma tormenta criada
por ventos e marés da província
de Kanagawa, no Japão.

2
A onda que mais chama
a atenção na obra tem um
formato parecido com as garras
afiadas de um felino pronto a atacar.
Já a outra onda, mais discreta,
guarda similaridade com
a silhueta do Monte Fuji.

3
Os três barcos, usados
para transportar peixes vivos,
carregam oito remadores cada um,
além de passageiros. Na imagem, os
elementos humanos são secundários
e parecem desesperados diante
do perigo iminente.

ARTE
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