Aventuras na História - Edição 195 (2019-08)

(Antfer) #1
áreas como matemática, astronomia, medicina
e fi losofi a, só para citar algumas. Mas, como
estamos falando de algo ocorrido fora da Eu-
ropa, muita gente não sabe”, lamenta.
Não por acaso, uma grande referência da fi -
losofi a medieval foi o persa Avicena (980-1037),
que em mais de cem livros versou sobre lógica,
ciências naturais, matemática, metafísica, teo-
logia e medicina – nessa época, o saber era in-
tegrado, ou seja, um mesmo indivíduo dominava
várias disciplinas. Esse legado de peso levou o
medievalista francês Alain de Libera a conside-
rá-lo introdutor da ciência e da racionalidade
religiosa no mundo ocidental. Jacques Le Goff ,
por sua vez, enaltece a fi gura de São Tomás de
Aquino (1225-1274), autor da célebre Suma Te-
ológica, como o grande conciliador da fé e da
razão – cerne do pensamento escolástico. Vale
lembrar que Aquino foi aluno de Santo Alberto
Magno (1206-1280), fi lósofo e teólogo alemão,
notório pensador que se aprofundou nos estudos
do grego Aristóteles e acabou inserindo o aris-
totelismo no pensamento cristão, segundo o
qual o empirismo e a sistemática do conheci-
mento têm valor fundamental.
Como destaca Aline Dias da Silveira, profes-
sora associada no Departamento de História da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
e especialista em História Antiga e Medieval, o
trânsito do conhecimento não fi cou restrito às
igrejas e aos mosteiros. Ele também passava

pelas cortes da alta nobreza no mundo cristão
latino e grego, e pelas madrassas (escolas mu-
çulmanas) e casas da elite do mundo islâmico.
“É importante ter em mente que as pessoas via-
javam anos atrás do conhecimento e que exis-
tiam muitas rotas marítimas e terrestres de
comércio que ligavam os três continentes (Eu-
ropa, Ásia e África). Neste contexto, a questão
religiosa não impedia que o califa de Bagdá, por
exemplo, tivesse em sua corte cristãos, judeus,
zoroastristas e hindus traduzindo, juntos, textos
de saberes de diversas culturas para a língua
árabe.” De fato, se pensava muito na era medie-
val. Do contrário, as universidades não teriam
surgido no século 12, em resposta ao crescimen-
to populacional, econômico e urbano. A Uni-
versidade de Bolonha, por exemplo, data de 1158;
a de Paris, de 1200. Nelas havia quatro ramos
do saber: Artes, Direito, Medicina e Teologia.

CRIATIVIDADE EM ALTA
genialidade humana se mostrou
com força e expressividade no
ramo artístico, tendo como ex-
poente a arquitetura. Símbolos
da ligação entre Deus e os ho-
mens, as igrejas despontavam na paisagem
medieval como se fossem joias. E, no fi nal do
século 12, essa diretriz fi cou ainda mais evi-

SÃO TOMÁS DE AQUINO


SANTO
ALBERTO MAGNO

IDADE MÉDIA

Free download pdf