Aventuras na História - Edição 195 (2019-08)

(Antfer) #1

estimulou a criatividade dos camponeses para
que a lida se tornasse mais eficiente. Então,
novas técnicas e ferramentas passaram a fazer
parte do dia a dia desses trabalhadores, tais
como a “utilização mais constante do ferro na
fabricação de enxadas, rastelos e forcados, ou
de equipamentos como a charrua, arado grande
com rodas e pontas de metal”, lista o historiador
José Rivair Macedo, no livro Movimentos Po-
pulares na Idade Média (editora Moderna). No
entanto, a maior invenção do setor foi o sistema
de cultivo trienal, no lugar da rotação bienal. O
solo passou a ser dividido em três partes, de
modo que, a cada ano, uma permanecia em
descanso e as demais eram trabalhadas. Passa-
dos três anos, todas tinham sido utilizadas. “A
nova técnica era melhor, pois permitia um
maior aproveitamento do solo, facilitando a
variação das culturas”, justifi ca Macedo.


LUTA POR DIREITOS
campo também viveu anos de
efervescência político-social,
uma vez que foi palco de uma
série de movimentos populares
pela busca de direitos. A subor-
dinação dos camponeses – o maior contingente
populacional – aos nobres e à Igreja era a base
das relações. Estavam todos de acordo, como
rezava a tradição, segundo a qual permutava-se
trabalho por segurança. No entanto, quando os
mais poderosos impunham condições abusivas,


a base da pirâmide reagia, levada por um forte
senso de coletividade e solidariedade. Não raro,
as reivindicações viravam insurreições.
A primeira grande revolta camponesa de que
se tem notícia ocorreu na Normandia, no norte
da França, em 996, durante o governo do duque
Ricardo II. Os trabalhadores resolveram explo-
rar a reserva senhorial sem a devida autorização
e acabaram sendo massacrados pelas tropas
ofi ciais. Séculos adiante, contudo, outra querela
obteve resultados favoráveis. “Entre 1250 e 1251,
os servos de Orly, uma aldeia localizada no sul
de Paris, recusaram-se a pagar impostos pesso-
ais aos seus senhores, os padres da Abadia de
Notre-Dame. O movimento de insatisfação
cresceu. Aldeias vizinhas se rebelaram e em
pouco tempo havia aproximadamente 2 mil
vilãos revoltados”, relata o historiador José Ri-
vair Macedo. A pressão popular levou a disputa
aos tribunais da Coroa e, após negociações, os
servos fi caram livres da taxa extra. Anos mais
tarde, em 1263, a própria servidão acabou sendo
abolida no sul de Paris. Vitória do povo.
Outros motins, também defl agrados por co-
branças de impostos, atingiram as cidades. Nes-
sas localidades, líderes populares despontaram
e entraram para a História, como, por exemplo,
Estevão Marcel, representante dos comerciantes
parisienses que, entre 1356 e 1357, junto com
seus partidários, forçaram a retirada do
regente Carlos e controlaram Paris. Mais tar-

JOHN BALL

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