Aventuras na História - Edição 195 (2019-08)

(Antfer) #1

de, em 1381, na Inglaterra, foi a vez de Watt Tyler
e John Ball assumirem as reivindicações de cam-
poneses e artesãos, e dominarem a cidade de
Londres. Os dois episódios, contudo, termina-
ram com o assassinato de seus líderes. Mesmo
assim, somaram-se a tantos outros espalhados
pela Europa, reforçando o anseio popular por
justiça e melhores condições de trabalho.
Ao contrário do que nos foi ensinado, havia
espaço para as camadas populares medievais se
expressarem e viverem a vida conforme suas
crenças e anseios. O problema é que, por muito
tempo, aprendemos sobre a Idade Média tendo
como base fontes eclesiásticas, que expressavam
um ideal religioso e moral proveniente de uma
restrita parcela da população. Portanto, como
explica Aline Dias da Silveira, é equivocado
afi rmar que a Igreja detinha total controle sobre
o comportamento das pessoas. “Até o século 9,
o papa era apenas o patriarca da Roma ocidental
e estava submetido ao Imperador Romano do
Oriente (ou Bizantino). Não havia uma unidade
entre o poder local dos bispos que pudesse cons-
tituir uma instituição que tivesse tal poder.
Além disso, os padres falavam em latim na mis-
sa para uma população que não sabia ler ou
escrever e a igreja não possuía exércitos, logo
necessitava do apoio de reis e de nobres para
qualquer tipo de coerção, como foi o caso da
perseguição às heresias nos séculos 12 e 13.” O
que existia, de fato, era a infl uência religiosa


sobre as práticas cotidianas, principalmente
porque o cristianismo se fundiu aos antigos
ritos pagãos, como provam as festas do calen-
dário litúrgico. Mas, do ponto de vista compor-
tamental, incluindo a sexualidade, a repressão
não foi tão severa assim.

LITERATURA LIVRE
produção literária da nobreza
medieval dá pistas de como as
coisas funcionavam naquela épo-
ca. “Havia sensualidade na poe-
sia trovadoresca e ousadia das
cantigas de escárnio. No entanto, o auge do hu-
mor sexual das mentes medievais encontra-se
nos Fabliaux, pequenas histórias de escárnio, das
quais o teor pornográfi co é de deixar os leitores
de hoje ruborizados, lembrando que numa so-
ciedade, em que a maioria não sabia ler, inclusive
os nobres, essas histórias eram lidas em voz alta
para uma plateia”, pontua a professora. Para ela,
estes são indícios de que os padres poderiam
pretender reprimir o comportamento sexual dos
leigos na Idade Média, mas não tiveram tanto
sucesso. “Seria no período Moderno, a partir do
século 16, que a intervenção das monarquias
fortalecidas, fundamentadas na moral da Igreja,
se tornara mais contundente”, esclarece. Antes
disso, entre o Céu e o Inferno, as mais variadas
manifestações humanas fi zeram da Idade Média
um milênio dos mais interessantes.
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