Aventuras na História - Edição 195 (2019-08)

(Antfer) #1

flores, velas e fotos arrancadas das revistas. No-
tas de dinheiro dadas por ela eram emolduradas.
No Teatro Colón, em Buenos Aires, por muitos
anos manteve-se intacta uma taça de champa-
nhe com sua mancha de batom. Em Mendoza,
um museu guardava um vidrinho de descon-
gestionante que ela usara quando passara pela
cidade. Não à toa, Evita era cada vez mais odia-
da pela elite. Chamavam-na “la yegua”. A égua.
Eva se tornou ainda mais perigosa às vésperas
das eleições de 1951, quando os sindicatos pro-
puseram que se candidatasse à vice de Perón.
Para ela, seria uma vitória pessoal, uma manei-
ra de legitimar uma existência que lhe fora sem-
pre negada ou questionada: primeiro uma filha
bastarda, depois uma atriz namorando um ge-
neral e por fim uma primeira-dama metendo-se


em assuntos de política. O povo estava com ela:
em um comício, a multidão diante da Casa Ro-
sada exigiu, fanática, sua candidatura. Evita
aceitou, mas acabou renunciando dias depois.
Não são claros, porém, os motivos de sua
renúncia. A biógrafa Alicia Dujovne Ortiz apon-
ta ciúme por parte de Perón: “Ele não havia
imaginado a intensidade do diálogo amoroso
entre Evita e o povo. Encontrar-se obscurecido
pelo resplendor de uma paixão a dois e excluído
do triângulo não estava em seus planos”. Outras
fontes sugerem problemas de saúde, que já da-
vam os primeiros sinais na forma de hemorra-
gias, desmaios e fortes dores no baixo-ventre.
Se assim foi, resta saber o que lhe disseram para
convencê-la a desistir da vice-presidência. Pois
Eva Perón nunca soube que tinha câncer.
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