Aventuras na História - Edição 195 (2019-08)

(Antfer) #1

AS GUERRAS SECRETAS


E O ÁS TUPINIQUIM


AS OPINIÕES DOS COLUNISTAS NÃO SÃO DE RESPONSABILIDADE DA REVISTA

M.R. TERCI É ESCRITOR, FINALISTA NO PRÊMIO CUBO DE OURO, AUTOR DE IMPERIAIS DE GRAN ABUELO (2018),
OBRA AMBIENTADA NO PÓS-GUERRA DO PARAGUAI, E BAIRRO DA CRIPTA (2019), NA BELLE ÉPOQUE BRASILEIRA

H


avia uma batalha diferente nos céus da Eu-
ropa. Uma peleja incessante que não era de-
limitada pelas fronteiras geográficas ou ide-
ologias antagônicas. Bandeiras e ideais poderiam
queimar, mas o que ardia no coração dos aviadores
era o desejo de glória e isso, muitas vezes, os levava
para longe. Pouca gente sabe, mas um brasileiro se
tornou o Ás da Luftwaffe – Força Aérea Alemã.
Difícil acreditar? Sim, mas essa é a história de Egon
Albrecht Lemke, natural de Curitiba, capital do
Paraná, descendente de alemães.
Também não é de se estranhar. O partido nazis-
ta no Brasil não apenas era o maior fora de territó-
rio alemão como também o mais empenhado em
convocar cidadãos leais ao
Reich. Atendendo aos ape-
los de Hitler, o brasileiro
Egon Albrecht Lemke via-
jou para a Alemanha nos
anos 1930, se juntou à ju-
ventude hitlerista e, mais
tarde, com pouco mais de
20 anos de idade, tornou-se um dos mais destacados
pilotos de caça alemães, participando de dezenas
de missões de ataque na Europa.
A bordo de sua máquina voadora, um caça bi-
motor Messerschmitt BF 110, Lemke combateu nas
grandes invasões nazistas dos Países Baixos, em
missões de apoio às tropas em terra na França e na
épica batalha nos céus da Inglaterra. Na frente rus-
sa, o caça de Lemke abateu, sozinho, 15 aviões.
Condecorado diversas vezes, o piloto foi promo-
vido à capitão e passou a liderar uma das mais mor-
tíferas esquadrilhas da Luftwaffe. Retomou o com-
bate aéreo na França em 1943 e, posteriormente,
participou da defesa da Áustria, em 1944, quando

bombardeiros Aliados decolaram da Itália. Por sua
bravura em combate e grande número de aviões
Aliados abatidos – 25 aeronaves inimigas – foi con-
decorado com a Ritterkreuz, o Cavaleiro da Cruz
de Ferro e, com isso, o brasileiro entrou para o
restrito rol de aviadores alemães que receberam a
mais alta condecoração nazista.
Egon Albrecht Lemke continuou tocando o ter-
ror nos céus até a data em que Paris foi libertada.
Em sua última missão, à leste da capital francesa,
Lemke foi atacado por vários aviões Aliados. Saltou
de paraquedas, mas não sobreviveu. Morreu em
ação no dia 25 de agosto de 1944.
O aviador brasileiro foi considerado, ao lado de
lendários ases como Hans-
-Ulrich Rudel, Adolf Ga-
land e Walter Krupinski,
um dos maiores e mais
destacados pilotos da Se-
gunda Guerra Mundial.
Egon Albrecht Lemke
serviria de modelo para a
propaganda nazista, aparecendo em fotos que mo-
bilizariam milhares de jovens ao redor do mundo
a ingressarem nas linhas germânicas. O curitibano
inspiraria, assim, muitos outros jovens a somarem
forças aos alemães, entre estes, um outro brasileiro.
Wolfgang Ortmann, nascido em São Bento do
Sul, no estado de Santa Catarina, topou com a pro-
paganda nazista de seu conterrâneo brasileiro e,
movido pelo mesmo desejo de glória, ingressou nas
esquadrilhas da Luftwaffe. Combateu no front rus-
so e os registros de época o descrevem como habi-
lidoso piloto. Contudo, obteve menos êxito do que
o curitibano Lemke. Wolfgang Ortmann morreu
em fevereiro de 1942, abatido por aviões russos.

Piloto brasileiro combateu na
Segunda Guerra e se tornou o
único do país com a mais alta
condecoração nazista

COLUNA M.R. TERCI

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