Aventuras na História - Edição 195 (2019-08)

(Antfer) #1

O GRANDE TESOURO


PERDIDO ATÉ HOJE


AS OPINIÕES DOS COLUNISTAS NÃO SÃO DE RESPONSABILIDADE DA REVISTA

JORGE DE SOUZA É AUTOR DO LIVRO HISTÓRIAS DO MAR – 200 CASOS VERÍDICOS DE FAÇANHAS, DRAMAS, AVENTURAS E
ODISSEIAS NOS OCEANOS, DO QUAL ESTA HISTÓRIA FAZ PARTE. VENDAS E INFORMAÇÕES: WWW.HISTORIASDOMAR.COM

N


o século 17, o galeão Nuestra Senõra de las Ma-
ravillas armou uma confusão que gerou o pró-
prio naufrágio e um mistério que dura até hoje:
onde foi parar a parte mais valiosa do seu tesouro?
A noite estava escura e sem lua na perigosa região
dos baixios das Bahamas, naquele 4 de janeiro de


  1. Uma tempestade se aproximava. O capitão do
    galeão espanhol, que liderava uma flotilha de 22 naus
    abarrotadas de ouro e prata extraídos das minas da
    América Central, sentiu-se no dever de alertar os
    colegas das demais embarcações sobre os riscos da
    navegação naquelas águas tão rasas.
    Disparou, então, um tiro de canhão que podia ser
    ouvido a distância. Mas os outros capitães não enten-
    deram o sinal. Julgando que
    a primeira nau estava sendo
    atacada por piratas – e por
    isso fizera o disparo –, as
    tripulações dos demais ga-
    leões entraram em pânico,
    executaram manobras de-
    sesperadas e passaram a
    disparar seus canhões contra um inimigo que não
    existia. No tumulto, um dos galões colidiu com o
    próprio Maravillas, que começou a afundar rapida-
    mente. Vendo que sua nau não aguentaria muito
    tempo, o capitão do galeão abalroado – o mesmo que,
    involuntariamente causara tudo aquilo –, deu ordens
    para rumar exatamente para as águas rasas que tan-
    to temia. O objetivo era fazer com que o navio afun-
    dasse numa região de pouca profundidade para, mais
    tarde, facilitar o resgate da fortuna que transportava.
    Nos baixios, já açoitado pelas ondas da tempesta-
    de que se aproximava, o Maravillas durou pouco. E
    logo se partiu em dois. A proa afundou na hora, le-
    vando junto muitos homens. Mas a popa, justamen-


te onde estava a maior parte da carga milionária, foi
empurrada pelos ventos para longe, antes de também
sucumbir no oceano. Só que nunca se soube onde.
E é justamente nesta dúvida – onde estará a popa
do Maravillas? – que reside o fascínio de um mistério
que dura até hoje. Três séculos se passaram até que,
um dia, no início da década de 1970, a âncora de um
barco de pesca enganchou em algo no fundo daque-
les baixios. Os pescadores acharam um velho canhão.
Depois, garrafas, pedaços de ferro, moedas. Era a proa
do Maravillas, cuja localização, com o tempo, tam-
bém havia sido perdida. Mas, da popa, nenhum sinal.
Até que, em 1990, outros pescadores acharam uma
lancha naufragada não muito distante do ponto onde
jaziam os restos da proa do
Maravillas. Dentro dela, ha-
via objetos do galeão, indi-
cando que haviam pessoas
saqueando os escombros.
Mas, e se a lancha estivesse
vindo da popa - e não da
proa - da nau perdida? E se
os ocupantes tivessem encontrado a parte valiosa do
tesouro e não revelado, antes de afundar também?
Entre outras preciosidades, o Maravillas transpor-
tava esmeraldas de mais de 100 quilates, cerca de 40
toneladas de ouro e uma imagem da Virgem Maria
em tamanho quase real, feita do mesmo material. No
total, calcula-se que aquela nau levava o equivalente
a cerca de 4 bilhões de reais, em dinheiro de hoje.
Seria, portanto, o mais rico galeão naufragado
conhecido da História. E, ao que tudo indica, a maior
parte da fortuna continua no fundo do mar de algum
ponto dos baixios das Bahamas, à espera do sortudo
que, finalmente, responda a pergunta que intriga há
mais de três séculos: Onde está a popa do Maravillas?

O galeão armou uma
confusão que gerou o próprio
naufrágio e um mistério que
já dura três séculos

COLUNA JORGE DE SOUZA

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