Aventuras na História - Edição 195 (2019-08)

(Antfer) #1

VIDA JUDAICA


FOTO DIVULGAÇÃO


Você teve algum
parente que passou
pelo Holocausto?
Sim. Uma trisavó minha,
Hudla Pintchowsky, que
foi assassinada em
Treblinka. E uma de suas
sobrinhas foi deixada
num convento pelos pais,
para ser protegida, e
conseguiu sobreviver.
Minha família materna
é da Polônia e eu cresci
ouvindo essas histórias.

Como você enxerga
o antissemitismo
e as ideologias
extremistas de hoje?
Trabalho na perspectiva
de promover o judaísmo
e não combater o
antissemitismo. Criei meu
projeto justamente para
mostrar como o judaísmo

pode ser uma cultura
inclusiva e respeitosa.
E como é possível
construir um futuro
melhor com a mudança
das relações de agora,
sem nenhum estereótipo.

De que forma seu
projeto funciona?
Uso as mídias sociais
para divulgar o judaísmo
ortodoxo, nossas
tradições, fazer rezas,
ensinar hebraico...
Tudo está lá para quem
quiser ver. Além disso, eu
e minha mulher, Jacqueli-
ne, viajamos Brasil afora
em busca dos Bnei
Anussim. E já encontra-
mos comunidades do
sertão nordestino que
mantinham costumes
judeus e não sabiam.

Nosso papel é orientar
judeus e não judeus que
querem conhecer a
cultura, porém, de um
modo mais acessível e
contemporâneo.

E este novo olhar
já sofreu (ou sofre)
alguma resistência
na comunidade em
que vive?
Sim, infelizmente. Mas
também tenho apoio
de muitas autoridades
do nosso meio e fora
dele. Certa vez, me
deparei com cartazes
de neonazistas no centro
de São Paulo e resolvi
tirar satisfações dos
autores. Um deles
descobriu meu telefone
e começou a fazer
ameaças. Eis que recebi
muito apoio e mensagens
de paz das comunidades
que frequento na região,
como o Capão Redondo.
Percebi também que meu
trabalho é respeitado em
diferentes esferas da
sociedade – especial-
mente por estar presente
nelas, realizando ações
sociais. Esse é o cami-
nho, pois só se comba-
tem as trevas com a luz.

O


carisma é o cartão de visitas do rabino Gilber-
to Ventura. E sua fala, cheia de euforia, se en-
tusiasma ainda mais quando resolve explicar
seu projeto Sinagoga sem Fronteiras. Trata-se de um
movimento que resgata as comunidades brasileiras
dos Bnei Anussim: os descendentes dos judeus que
foram convertidos à força pela Inquisição – “a mãe
do nazismo”, segundo ele. Após 80 anos do início da
Segunda Guerra Mundial, e diante de antissemitis-
mos que perduram entre nós, o rabino Ventura roda
o Brasil com sua missão: a de resgatar, mas também
a de promover a cultura judaica no mundo atual. “E
por que não acolher e ensinar outras pessoas?”, diz.

“Já encontrei
comunidades
no sertão
brasileiro que
mantinham
costumes
judeus e
não sabiam”

RABINO RESGATA A CULTURA ENTRE OS DESCENDENTES DOS
JUDEUS QUE FORAM CONVERTIDOS À FORÇA POR TAINÁ GOULART

GILBERTO VENTURA
É RABINO FUNDADOR
DO PROJETO
NACIONAL “SINAGOGA
SEM FRONTEIRAS”
E PRESIDENTE DO
MOVIMENTO “REUNINDO
OS DISPERSOS DE
ISRAEL” NO BRASIL, UMA
INICIATIVA COM SEDE EM
ISRAEL E NOS ESTADOS
UNIDOS QUE DÁ APOIO ÀS
PESSOAS QUE BUSCAM
A CULTURA JUDAICA.

ENTREVISTA
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