Aventuras na História - Edição 195 (2019-08)

(Antfer) #1
o terrível campo de concentração de Dachau.
Ainda assim, o ex-chanceler e sua família con-
seguiram sobreviver aos mais terríveis dos ter-
rores: seriam libertados pelas forças aliadas em
1945, no epílogo da Segunda Guerra Mundial.
A independência da Áustria havia sido uma
das imposições do Tratado de Versalhes, o acor-
do de paz assinado em 1919 pelas potências
europeias, que basicamente responsabilizava a
Alemanha pelas perdas e danos da Primeira
Guerra. Hitler era um dos incontáveis alemães
que não se conformavam com aquela “paz da
vergonha”, que obrigara o país a pagar uma
reparação astronômica para seus inimigos –
especialmente a França –, a ceder parte de seus
territórios e a reduzir suas Forças Armadas a
um nível de insignificância. Nos comícios que
marcaram a ascensão do líder nazista, desde os
anos 1920, o político não perdia a chance de
apontar o contraste entre o passado glorioso do
Império Alemão e a situação em que o país se
encontrava pós-tratado. De fato, ao longo da
República de Weimar – que foi a democracia
parlamentar alemã entreguerras –, a dificulda-
de de um ressurgimento econômico por conta
das restrições do Tratado de Versalhes dissemi-
nava um sentimento generalizado no povo: um

misto de humilhação, saudosismo dos tempos
do império e revanchismo. A política democra-
ta era associada ao fracasso e à rendição, terre-
no fértil para a acolhida de um ditador com
discurso ultranacionalista. Uma retórica prepa-
rada mesmo antes que o maior criminoso da
história fosse uma personalidade conhecida – e
temida – por todo o planeta.

ÀS PORTAS DA FRANÇA
Ainda jovem, Adolf Hitler já era um admirador
das ideias do político de extrema-direita Georg
Schönerer, o mais radical entre os defensores do
pangermanismo, uma ideologia que pregava a
reunião de todos os povos de língua alemã sob
o guarda-chuva de um grandioso Estado ger-
mânico – e que também tinha uma visão de
mundo racista e de apoio a minorias alemãs em
outros países. A recuperação da Áustria era um
passo coerente nesse caminho infame para for-
talecer um Reich eterno e invencível. Assim, os
nazistas levaram sua perseguição aos judeus
para a capital cosmopolita e multiétnica que era
Viena, forçando o exílio de alguns dos mais
ilustres de seus habitantes – como Sigmund
Freud, o pai da psicanálise. Mas, além da reali-
zação do sonho pangermânico, aquela agres-

Propaganda
nazista nas ruas
de Viena em
1940, durante a
Segunda Guerra
Mundial: “Um
povo, uma nação,
um líder, Heil
Hitler”


Kurt Schuschnigg, o
último chefe de Estado
antinazista da Áustria,
em discurso de 1936
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