Ana Maria - Edição 1189 (2019-08-01)

(Antfer) #1

anamaria.uol.com.br


O que a motivou a aceitar esse papel?
Pela homenagem à minha mãe, que é
costureira. Ainda tenho muita memória
afetiva, ouço o barulho da máquina
de costura ao fechar o olho. Quando
poderia fazer uma costureira de novo
para homenagear a ela e tantas outras
Palomas por aí? Me lembrei do quanto
minha mãe batalhava e o quanto isso
ajudou a me tornar uma mulher forte.


E o que tem de você no papel?
O resgate a essa coisa popular, o público
que fui um dia. Hoje dou entrevista, virei
atriz de novela... Saí desse lugar, mas tem
a simplicidade, estou amando o resgate,
a espontaneidade.


Assim como a Paloma, 39% dos lares
são chefiados por mães solo...
É muita responsabilidade, uma
homenagem a todas elas. Me sinto
madura para retratar a vida dessas
mulheres todas.


A novela também fala da morte, né?
Na verdade, fala de vida. Se tem algo
do qual temos certeza é a morte, que
está presente na vida de todos. Porém,
como vivemos o dia a dia? Não nos
questionamos e nos achamos imortais.
Como a Paloma tem uma data para
morrer, ela muda e vive intensamente.


E como é fazer essa mãe batalhadora?
Agora sou mãe de três, né? É muito
diferente. Sou mãe de uma criança,
já a Paloma tem filhos adolescentes.
Tive a sorte e o prazer de conquistar a
independência financeira antes de ser
mãe. Isso faz uma grande diferença.


Como é ter filho jovem na ficção?
A Paloma tem duas filhas adolescentes
e o Peter, de 10 anos. Quando minha
mãe teve filhos, se separou do meu pai
e ficou em uma situação complicada.
Com isso, jurei para mim que seria mãe
só após conseguir minha independência
financeira. Como sou canceriana, a
maternidade está na minha veia. Tenho o
luxo de contar com o auxílio de pessoas
da família e anjos da guarda como
funcionários que me ajudam quando
estou gravando novela.


A Paloma tem outra situação...
Ela e tantas outras Palomas têm uma
situação mais complicada. Imagine ser
mãe de três filhos e dar conta da casa,
lavar, cozinhar, passar... É tanta coisa! Na
fase bebê é mais fácil. Quando crescem
chega a hora de educar mesmo e tudo
complica. Estou sentindo isso na pele.

Preparada para a Sofia jovem?
Não [risos]. Fui uma adolescente do
interior, que é completamente diferente
de ser jovem no Rio de Janeiro. Aqui
são muitos atrativos. Então, conto com
o auxílio do pai, muita conversa com
ela... Eu não conseguia mentir para a
minha mãe e sempre dizia a verdade.
Criamos uma relação de amizade e
tento ter isso com a Sofia.

A Paloma é muito espiritualizada...
Eu também sou. Fui criada católica e,
hoje, acredito em fé, o princípio de
tudo. Nós temos a mesma santa de
devoção: Nossa Senhora de Aparecida.

Você se colocou no lugar da Paloma
quando ela descobre que tem pouco
tempo de vida?
Me coloco mais no lugar dela do que
no meu. A novela tem muito drama,
mas uma pitada de humor e leveza
também. Sei que protagonista sofre do
começo ao fim, mas vamos lá. Vamos
enganar o organismo e os sentimentos.

O que faria se soubesse que lhe
restam apenas seis meses de vida?
Algo parecido com ela: viveria
intensamente. Mandaria tudo para as
cucuias e viajaria com a minha filha
para todo lado, abraçaria, beijaria,
agarraria a minha pequena...

Já pensou em ter mais filhos?
Lógico!

Mais quantos?
Ah, não sei. Deixa eu arrumar um pai, aí
a gente decide junto [risos].

Você tem tanta intimidade com a
leitura como sua personagem?
Não. Lá em casa, quando eu pegava
um livro, minha mãe dizia: “Você

é vagabunda? Vai trabalhar”. Livro
significava não ter o que fazer. Para a
maioria dos brasileiros, infelizmente,
ainda é assim. Existia essa conotação
de não estar fazendo nada quando, na
verdade, você está lendo. O hábito de
ler deve ser desenvolvido desde cedo.
Hoje, leio com a minha filha.

O que está lendo?
A Morte É um Dia Que Vale a Pena Viver.
Um livro maravilhoso, que ganhei de
uma das consultoras da novela. Pensei
que a obra falasse de morte. Mas
percebi que é sobre a vida, qualidade
da vida, como viver aqui... Porque a
finitude existe para todos, mas seu
tempo é diferente [do tempo] do outro.

O encontro da personagem com o
Carnaval aguçou a sua vontade de
voltar para o samba?
A Paloma tem muitos pontos que
me fazem reviver situações. E o lado
popular é o Carnaval. Quando pequena,
saía na escola de samba da minha
cidade. Depois, desfilei no Rio de
Janeiro. Tem essa coisa de me colocar
em contato com a leitura também.
E o Fagundes é uma enciclopédia
ambulante, uma biblioteca! Ele nos
presenteia com livros divinos. Já estou
com uma listinha que ele me deu, não
estou conseguindo ler, mas vou ainda.
É um presente estar com esse homem.

Paloma e Alberto (Antonio Fagundes):
o diagnóstico deles é trocado e ela acha
que viverá por apenas mais seis meses

Capa

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