Ana Maria - Edição 1189 (2019-08-01)

(Antfer) #1
anamaria.uol.com.br

FOTOS: DIVULGAÇÃO


R


ecentemente, ficamos surpresos com
o suicídio de uma influenciadora após
passar por um evento traumático de
ter o término do relacionamento um dia
antes da cerimônia de casamento. Muitas
vezes, é difícil identificar se um parente
ou amigo tem tendências suicidas. Mas o
grande desafio é acabar com o tabu sobre
essa questão, especialmente porque o perfil
da população suicida tem mudado muito. Já
nos anos 90, observou-se um aumento nas
taxas de suicídio e a Organização Mundial
de Saúde (OMS) realizou uma campanha
de prevenção (em 82% dos países que a
adotaram as taxas de suicídio diminuíram).
Infelizmente, o Brasil entrou na estatística
inversa, de aumento de casos, assim como
os Estados Unidos. O idoso ainda é o que
mais se suicida, mas assusta o aumento
de 30% de incidência nos jovens na
última década. Muitos estudos têm sido
conduzidos para compreender essa questão
e a inserção nas redes sociais, incluindo
aí o cyber bullying e o assédio digital, em
que os jovens estão amplamente inseridos,
pode ser considerada uma causa alarmante.
A própria disponibilidade de informação
na rede também funciona como estopim
(sabemos que há enorme número de buscas
do tipo “melhores métodos de suicídio” ou
“como se matar”). Na maioria das vezes, é
difícil a pessoa chegar ao profissional de
ajuda. Mas notar modificações nos hábitos,
como se alimentar mal, ter insônia, se isolar,
dar sinais de baixa autoestima, abusar de
álcool e drogas, além de apresentar sinais
de ansiedade e agitação, pode servir
de alerta. Outra população de risco é
quem sofreu traumas e abusos ao longo
da vida. Falar sobre o assunto, seja com
familiares, pessoas da comunidade, médico,
psicólogo e outros profissionais de ajuda, é
fundamental. Externar os traumas pode ser a
solução para evitar o mal. Em toda situação
de angústia, dúvida, tristeza é essencial
buscar ajuda com profissionais de saúde
mental, e romper o preconceito de vez!

A mente da gente


GETTY IMAGES

Envie suas perguntas para Luiz Scocca pelo e-mail [email protected]

LUIZ SCOCCA
É psiquiatra com mais
de 20 anos de atendimento
em consultório próprio,
além da participação
em grupos de estudo,
congressos e projetos
sociais. Formado pela USP
e membro das associações
brasileira e americana
de psiquiatria: ABP e APA.

Suicídio: mudanças de hábitos


podem servir de alerta


“Notar modificações
nos hábitos, como se
alimentar mal, ter insônia,
se isolar, dar sinais de
baixa autoestima, abusar
de álcool e drogas, além
de apresentar sinais de
ansiedade e agitação,
pode servir de alerta”

A cada 40 segundos,
uma pessoa se
suicida no mundo.
Na faixa etária entre
10 e 54 anos, o
suicídio é a segunda
causa de morte.
Se considerarmos
tentativas de
suicídio, 14,1%
foram praticadas
por adolescentes.
O Brasil ainda tem
muito a melhorar
quanto a esses
registros: em
1980, era 0,2%; em
2013, saltou para
1% (o aumento
quintuplicou).

Aumento de casos
de suicídio

É preciso investir
na prevenção

Noventa e quatro por
cento dos suicidas
têm esquizofrenia,
transtornos do humor
e de personalidade.
É preciso investir na
prevenção de males
mentais: cada dólar
aplicado no combate traz
o retorno de 4 dólares.
Evitando destruição de
famílias e gastos com
estados crônicos
da doença.
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