DALAILAMA 97
De forma embaraçosa, sem me aperceber, tam-
bém lhe apertei a mão e até o abracei em encon-
tros anteriores, despertando apreensão entre os
seus colaboradores. Desta vez, porém, venho de-
cidida a comportar-me como manda o protocolo.
No entanto, quando dou um passo em frente para
fazer a vénia, o Dalai Lama avança com um bri-
lho nos olhos e pega-me na mão direita, puxa-me
para perto de si até as nossas testas acabarem por
tocar uma na outra. De seguida, solta um risinho.
Por norma, o Dalai Lama prescinde das for-
malidades. Embora seja venerado pelos budistas
tibetanos como um ser sagrado, costuma dizer:
“Sou um simples monge budista.” Quando trava
conhecimento com outro interlocutor, costuma
fazer de imediato um comentário para transmitir
que não existem barreiras que o separem, nem
nenhum ser humano, do seu irmão mais próximo.
Quando o interlocutor é careca, o Dalai Lama
poderá tocar-lhe no topo da cabeça e na sua pró-
pria cabeça rapada, em simultâneo, e depois rir
com alegria. Se for alguém com cabelo abundante,
pode fazer o mesmo e dizer, em jeito de brincadei-
ra, que o interlocutor tem mais cabelo do que ele.
Por vezes, põe a sua mão na nossa durante algum
tempo e fi ta-nos, inquisitivamente, com um sorri-
so sereno inundando-lhe o rosto.
É difícil evitar uma retribuição do sorriso.
Passada a barreira dos 80 anos, o Dalai Lama
discute com franqueza nesta entrevista o seu pas-
sado e o seu futuro, abordando a sua fuga épica,
o seu relacionamento com os funcionários chi-
neses, o seu ponto de vista sobre o azedume que
defi ne a actualidade, a forma como lida com o en-
velhecimento e a razão pela qual sente esperança
pelo futuro da humanidade.