National Geographic - Portugal - Edição 221 (2019-08)

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NAS SEIS DÉCADAS DECORRIDAS desde a sua fuga,
o Dalai Lama visitou mais de sessenta países numa
demanda destinada a preservar a cultura, a religião
e a identidade tibetanas. A facilidade com que se
relaciona com os outros, ao nível humano, é uma
das razões pelas quais é profundamente admirado
em muitas regiões do mundo, embora outrora fosse
mal compreendido fora do Tibete. Ali, no seu reino
situado no topo do mundo, os tibetanos prostrar-
-se-iam no solo mal o vissem, por crerem que ele é
a reincarnação dos 13 Dalai Lamas anteriores: uma
linhagem que existe desde o século XV.
Sempre que saía do Potala, o seu “palácio de In-
verno de 1000 salas,” como mais tarde escreveria
nas suas memórias, o Dalai Lama era escoltado
por um séquito de “centenas de pessoas”, incluin-
do “cavaleiros envergando o colorido vestuário
tradicional e bandeiras na mão” e monges segu-
rando faixas “decoradas com textos sagrados”.
Tinha apenas 2 anos em 1937, quando um grupo
de busca, constituído por monges conceituados,
seguiu os augúrios até à casa da sua família numa
pequena povoação agrícola. Segundo relataram, ao
mostrarem-lhe um conjunto diversificado de ob-

jectos, a criança identificou correctamente aque-
les que tinham pertencido ao Dalai Lama ante-
rior, incluindo uma bengala e um rosário. O rapaz
até pareceu reconhecer os monges, dirigindo-se a
um deles pelo nome. Depois de receber aprovação
em mais testes, foi conduzido, ao longo de uma
jornada de três meses, através de “montanhas
gigantescas ladeadas por extensas planícies”, até
à capital do Tibete, Lhasa, onde “multidões sem
fim” lhe deram as boas-vindas antes de ser for-
malmente empossado, no “enorme e cravejado
de jóias” Trono do Leão, como Chefe Espiritual do
Tibete. Tinha 4 anos de idade.
O seu destino seria alterado por Mao Tsé-
-Tung, cujas forças invadiram o Tibete em 1950,
um ano depois de o dirigente iniciar a revolução
comunista que fundou a República Popular da
China. O Tibete não estava preparado para se
defender das dezenas de milhares de soldados
chineses que invadiram a capital. O governo ti-
betano retirou o Dalai Lama da cidade e levou-o
para um refúgio, mas ele sentiu-se preocupado
com o destino do seu povo e decidiu regressar,
na esperança de conseguir negociar a paz.

1940 O 14.º Dalai Lama
viaja, num palanquim
dourado, no dia 22 de
Fevereiro de 1940, dia
da sua entronização
como líder espiritual do
Tibete. Nascido em
1935, numa família de
agricultores tibetanos, o
jovem Lhamo Thondup
foi identificado como a
encarnação mais
recente do Dalai Lama
quando ainda não tinha
3 anos de idade.

1954 Aos 15 anos, o
Dalai Lama foi de novo
entronizado, desta vez
como líder político do
seu povo, quando o
exército chinês invadiu
o Tibete em 1950.
Quatro anos mais tarde,
reuniu-se com Mao
Tsé-Tung para discutir a
paz e a independência
do Tibete. Reuniram-se
pelo menos uma dúzia
de vezes, mas não
chegaram a acordo.

1959 Após uma
insurreição contra a
ocupação chinesa e
temendo que o Dalai
Lama (montado num
cavalo branco) fosse
detido, os combatentes
pela liberdade
tibetanos fogem através
dos Himalaia até à Índia
para protegerem a sua
vida, perseguidos pelo
Exército Popular de
Libertação chinês.

Aclamação e exílio

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