National Geographic - Portugal - Edição 221 (2019-08)

(Antfer) #1

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ACONSTRUÇÃODEUMAMAMOA

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AS ANTAS DO REGO DA MURTA


NO ALTO RIBATEJO, UM COMPLEXO PRÉ-HISTÓRICO REVELOU INESPERADAS PRÁTICAS
FUNERÁRIAS. O NOVO MUSEU DE ALVAIÁZERE AJUDA A COMPREENDER A HISTÓRIA.

BEM LONGE DAS EXTENSAS NECRÓPOLES MEGALÍTICAS
do Alentejo Central e dos planaltos da Beira Alta, encon-
tramos uma singular manifestação da pré-história no
concelho de Alvaiázere (distrito de Leiria). O complexo
megalítico do Rego da Murta é constituído por treze
monumentos. Este conjunto de dólmenes e menires tem
sido estudado, desde , por Alexandra Figueiredo,
do Instituto Politécnico de Tomar, que lidera uma
extensa equipa de arqueólogos e antropólogos.
Do conjunto, destacam-se as Antas  e  do Rego da
Murta, que têm merecido um estudo mais aprofun-
dado. Típicos dólmenes de corredor, estes sepulcros
implantam-se numa zona associada aos maciços cal-
cários, junto da ribeira do Rego da Murta. Em redor
da Anta , encontraram-se cinco pequenos menires
dispostos em círculo, criando um cenário único,
repleto de simbolismo e religiosidade.
Estes dólmenes foram edifi cados no fi nal do Neo-
lítico, entre . e . a.C, e trouxeram a esta região
uma nova forma de abordar os rituais da morte, até
então realizados no interior de grutas, como as que se
encontram junto do rio Nabão, um pouco mais a sul.
Desde então, terão coexistido os enterramentos em
gruta e em dólmenes, com uma diferença substancial.
A partir deste período, iniciou-se o enterramento
colectivo que manifesta um novo paradigma social.
Prova disto foi o achado de restos humanos de cinquenta
indivíduos tanto na Anta  como na Anta  do Rego da
Murta. Na Anta , registaram-se ainda amontoados de
ossos, em diversas zonas da anta, cobertos por terra e
selados por pedras, perto dos quais eram depositados
diversos artefactos.


Os achados mais surpreendentes foram os enterra-
mentos da segunda fase de utilização destes sepulcros,
datados do Calcolítico Final/Bronze Inicial, entre . e
. a.C. Juntamente com os restos humanos, foram
identifi cados vestígios de fl ores e de ossos de uma grande
variedade de animais, sobretudo de pequeno porte (lebre,
coelho, cabra ou ovelha, raposa e corça), mas também de
boi e cavalo ou zebro. É um claro indício de que estas
populações tinham muitos recursos à sua disposição
sendo evidente, assim, o fraco stress alimentar.
Ainda desta época, foram depositadas, junto dos cor-
pos, peças extraordinárias como vasos de cerâmica,
contas de colar de xisto, variscite e anidrite, placas de
xisto, botões e alfi netes de osso, pontas de seta de sílex.
Inesperadamente, encontraram-se também alabardas
de sílex. Estas peças com forte valor simbólico são muito
raras, sobretudo a norte do rio Tejo, sendo ainda de difí-
cil interpretação o modo do seu funcionamento.
Este magnífi co conjunto de artefactos sugere inten-
sos contactos com regiões meridionais, como, prova-
velmente, o Alentejo. É igualmente neste sentido que
apontam os resultados obtidos por uma equipa da
Universidade do Iowa (EUA), que analisou amostras
de esmalte dentário de  indivíduos e oito animais,
detectando isótopos de estrôncio que identifi caram
indivíduos migrantes que teriam chegado a esta
região numa fase adulta.
Num território onde as grutas sempre tiveram pre-
ponderância, as Antas do Rego da Murta conseguiram
o seu papel na história e grande parte dessa história
pode ser vista no recém-inaugurado Museu de Arqueo-
logia de Alvaiázere concebido pela empresa Glorybox.

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