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HÁ 32 ANOS, o estudo do DNA de seres humanos
vivos ajudou a determinar que todos partilhamos
uma árvore genealógica e uma história de migração
primordial: todos os seres humanos que vivem fora
de África descendem de antepassados que deixa-
ram o continente há mais de 60 mil anos. Há cerca
de 45 mil anos, esses primeiros seres humanos
modernos aventuraram-se até à Europa, depois de
percorrerem o território do Médio Oriente.
A Europa era, então, um lugar inóspito. Mantos
de gelo com quilómetros de espessura cobriam
áreas signifi cativas do continente. Só existia vida
selvagem nos sítios onde se acumulava calor sufi -
ciente. Também existiam outros seres humanos,
mas não como nós: eram os neander-
tais, cujos antepassados tinham saído
de África centenas de milhares de anos
antes e já se tinham adaptado às condi-
ções climáticas frias e difíceis.
Os primeiros europeus modernos vi-
veram como caçadores e recolectores
em grupos pequenos e nómadas. Se-
guiram os rios, deslocando-se gradual-
mente ao longo do Danúbio até entrarem profun-
damente na Europa Ocidental e Central. Durante
milénios, o seu impacte foi reduzido. Em 1998,
com a descoberta do esqueleto de uma criança
em Lagar Velho (Leiria) com vestígios de misci-
genação entre Homo sapiens e Homo neandertha-
lensis, suspeitou-se que as duas espécies teriam
registado cruzamentos. Hoje, sabe-se que isso
aconteceu, mas, num período de cinco mil anos,
o neandertal desapareceu. Actualmente, cerca de
2% do genoma do europeu típico é composto por
DNA neandertal, inexistente no africano típico.
Enquanto a Europa permanecia sujeita à glacia-
ção, os seres humanos modernos mantiveram-se
no Sul, onde não havia gelo, adaptando-se ao clima
frio. Há cerca de 27 mil anos, é possível que existis-
sem apenas mil. Alimentavam-se de mamíferos
de grande porte, como mamutes, cavalos, renas e
auroques, os antepassados selvagens dos bovinos
contemporâneos. Deixaram pinturas e gravuras
das suas presas nas grutas onde se abrigavam.
Há cerca de 14.500 anos, quando a
Europa começou a aquecer, os seres
humanos seguiram o recuo dos glacia-
res para norte. Nos milénios seguintes,
desenvolveram ferramentas líticas
mais sofi sticadas e instalaram-se em
pequenas aldeias. Na década de 1960,
arqueólogos sérvios descobriram uma
aldeia piscatória aninhada em falésias
íngremes numa curva do Danúbio. Chamava-se
Lepenski Vir. Era uma povoação sofi sticada, cons-
tituída há cerca de nove mil anos, e terá chegado
a acolher cem pessoas. Algumas habitações esta-
vam decoradas com esculturas parcialmente hu-
manas e parcialmente pisciformes.
Vestígios encontrados em Lepenski Vir sugerem
que os habitantes dependiam muito da dieta aquá-
tica. Aquilo que hoje resta da aldeia está preservado
sob uma cobertura com vista para o Danúbio. “Se-
tenta por cento do regime alimentar era constituí-
do por peixe”, diz Vladimir Nojkovic, director do sí-
tio arqueológico. “Viveram aqui durante quase dois
mil anos, até os agricultores os expulsarem.”
A PLANÍCIE DE KONYA, na Anatólia Central, é o
actual celeiro da Turquia: uma região ampla onde
é possível observar a formação das tempestades
nas montanhas, muito antes de se começar a
levantar a poeira à nossa volta. Tem sido o lar de
agricultores desde os primeiros tempos da agri-
cultura, diz o arqueólogo Douglas Baird, da Uni-
versidade de Liverpool. Há mais de uma década
que Douglas escava uma aldeia pré-histórica aqui
situada chamada Boncuklu. É um local onde os
seres humanos começaram a plantar pequenos
lotes de duas variantes antigas de trigo denomi-
nadas Triticum dicoccum e Triticum monococcum.
Provavelmente, apascentaram pequenos rebanhos
de ovelhas e cabras há cerca de 10.300 anos, quase
na alvorada do Neolítico.
Mil anos mais tarde, a chamada Revolução
do Neolítico alastrou para norte, atravessando a
Anatólia e entrando no Sudeste europeu. Há cer-
ca de seis mil anos, havia agricultores e pastores
em toda a Europa.
PRIMEIRA VAGA
SAÍDA DE ÁFRICA
SEGUNDA VAGA
SAÍDA DA ANATÓLIA