ASORIGENSDAEUROPA 13
precisam de recorrer à datação por radiocarbo-
no. Quase invariavelmente, os homens eram
enterrados em decúbito lateral direito e as mu-
lheres em decúbito lateral esquerdo, ambos com
as pernas encolhidas e os rostos virados para sul.
Em algumas destas sepulturas do armazém de
Halle, as mulheres seguram bolsas e sacos com
dentes caninos de dezenas de cães e os homens
empunham machados de guerra. Numa sepultu-
ra, bem acondicionada numa caixa de madeira
sobre o soalho de betão do armazém, estão en-
terradas uma mulher e uma criança.
Quando analisaram pela primeira vez o DNA
de algumas destas sepulturas, os investigadores
esperavam identificar relações de parentesco pró-
ximas entre os indivíduos da época da Cerâmica
Cordada e os agricultores do Neolítico. Em vez
disso, o seu DNA continha genes distintos novos
na Europa de então, mas actualmente detectáveis
em quase toda a população europeia contempo-
rânea. Muitos indivíduos da Cultura da Cerâmica
Cordada eram afinal mais próximos dos nativos
americanos do que dos agricultores neolíticos eu-
ropeus, o que adensou o mistério da sua origem.
NUMAMANHÃLUMINOSADEOUTUBRO,juntoda
cidadesérviadeŽabalj,o arqueólogopolacoPiotr
Włodarczake osseuscolegasconduzemumacar-
rinhadecaixaabertaemdirecçãoa ummonte
construídoháaproximadamente4.700anos.Nas
planíciesqueladeiamo Danúbio,montescomo
este,com 30 metrosdediâmetroe trêsmetrosde
altura,sãoa únicatopografia.Napré-história,os
sereshumanosteriamdemoradováriassemanas
ou mesesa construircadaum.AequipadePiotr
passousemanasa removero topodomontecom
umaescavadorae pás.
Empénoaltodomonte,eleremovea cama-
da degeotêxtilpararevelaro quejazporbaixo:
umacâmararectangularcontendooesqueleto
de umchefetribal,deitadodecostascomosjoe-
lhosdobrados.Asmarcasdostapetesdejuncos
e dasvigasdemadeiraqueformavamo tectodo
seu túmuloaindasãodiscerníveisnaterraescu-
ra e compacta.
“Por volta de 2.800 a.C., regista-se uma mudan-
ça dos hábitos de enterramento”, diz o arqueólo-
go, debruçando-se, agachado, sobre o esqueleto.
“Construíam-se montes numa escala maciça,
acentuando a individualidade dos povos, acen-
tuando o papel dos homens, acentuando as ar-
mas. Há algo de novo na Europa.”
Mas nada disto era novidade 1.300 quilóme-
tros a leste. No actual território das estepes do
Sul da Rússia e do Leste da Ucrânia, um grupo
de nómadas chamado yamnaya, dos primeiros
povos do mundo a montar cavalos, dominara a
roda e construíra vagões e seguia manadas de
gado pelas pastagens. Construíram poucos po-
voados permanentes, mas enterravam os seus
homens mais importantes com ornamentos de
bronze e prata, sob imponentes montes funerá-
rios que ainda hoje marcam as estepes.
As escavações arqueológicas demonstraram
que os yamnaya começaram a deslocar-se para
oeste em 2.800 a.C, provavelmente em busca de
pastagens mais verdejantes. O monte de Piotr
Włodarczak, junto de Žabalj, é a sepultura yam-
naya mais ocidental descoberta até à data. No
entanto,naopiniãodeváriosespecia-
listas, as evidências genéticas mos-
tramquemuitosindivíduosdaCerâ-
micaCordadaeram,emgrandeescala,
seusdescendentes.Àsemelhançados
esqueletosdessacultura,osyamnaya
partilhavam laços distantes de pa-
rentescocomosnativosamericanos,
cujosantepassadostêmorigemnuma
regiãomaisoriental,naSibéria.
Em poucos séculos, outros indivíduos com
umapercentagemsignificativadeDNAyamnaya
tinham-se disseminadoaté locais tãodistantes
comoasIlhasBritânicas.NaGrã-Bretanhae nou-
troslugares,é difícilqueosagricultoresanterior-
mentefixados naEuropa tivessemsobrevivido
aosataquesvindosdeleste.NaactualAlemanha,
“háumataxadesubstituiçãodapopulaçãolocal
de 70 a 100%”,afirmaDavidReich.“Algomuito
dramáticoaconteceuhá4.500anos.”
Até então,osagricultorestinhamprosperado
na Europa durante milénios. Tinham-se fixado
daBulgáriaà Irlanda,frequentementeemaldeias
complexas que acolhiam centenas de pessoas.
O arqueólogoVolkerHeyd,daUniversidadedeHel-
sínquia,calculaquevivessemnaEuropaem3.000
a.C.talvezsetemilhõesdehabitantes.NaGrã-Bre-
tanha,ospovosdoNeolíticoestavama construir
Stonehenge.
TERCEIRA VAGA
SAÍDA DA ESTEPE
(Continua na pg. 18)