Na divergência, diplomatas é que contam, sugerem autoridades
Banco Central do Brasil
Jornal O Globo/Nacional - Mundo
Wednesday, March 2, 2022
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes
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Autor: ELIANE OLIVEIRA
Saia justa é algo pela qual a diplomacia brasileira tem
passado com alguma frequência desde o início da crise
entre Rússia e Ucrânia. O desencontro de declarações
entre o que diz o Itamaraty e o que diz o presidente da
República levou auxiliares de Jair Bolsonaro a
esclarecerem a embaixadores estrangeiros e
autoridades de outros países que, em momentos
divergentes, o que vale é a posição do Ministério das
Relações Exteriores, e não os discursos do presidente.
Por causa dos sinais trocados, dois ministros tiveram de
esclarecer a questão na segunda-feira. Em entrevista à
GloboNews, o chanceler Carlos França explicou que a
posição do Brasil não é de neutralidade, e sim equilíbrio.
Ao ser entrevistado pela Bloomberg, em Nova York, a
primeira pergunta que o ministro da Economia, Paulo
Guedes, teve de responder foi sobre a neutralidade
pregada por Bolsonaro. Guedes afirmou que o Brasil
votou duas vezes pela condenação à Rússia na ONU.
- PO Brasil no Conselho de Segurança da Organização
das Nações Unidas votou duas vezes e votará
novamente para condenar a invasão da Ucrânia.
'O GOVERNO ESTÁ PERDIDO'
A mensagem é que a visão do presidente é a mais
importante e que ele endossa as decisões do Itamaraty.
No entanto, Bolsonaro, com seu estilo informal de falar,
'nem sempre emprega as palavras com precisão'.
No domingo, dois dias depois de o Brasil condenar os
ataques russos à Ucrânia no Conselho de Segurança,
Bolsonaro defendeu a neutralidade. Disse que o ideal é
não tomar partido e demonstrou preocupação com o
preço dos fertilizantes, que têm a Rússia entre os
principais fornecedores do agronegócio brasileiro.
Antes disso, às vésperas da viagem de Bolsonaro a
Moscou, em meados do mês, o Itamaraty se esforçou
para convencer o governo ucraniano e autoridades de
outros países, como os EUA, de que o encontro entre o
presidente e o líder russo, Vladimir Putin, tinha o
objetivo de discutir a agenda bilateral. Bolsonaro, no
entanto, disse em Moscou que era solidário à Rússia,
sem dar detalhes a que se referia.
- Parece-me que o governo brasileiro está perdido, com
discurso extremamente ambíguo. Afinal, o que vale? O
posicionamento do Brasil no Conselho de Segurança,
de condenação explícita à Rússia, ou a fala do
presidente depois, que diz que o Brasil adotará a
neutralidade? - disse o cientista político Hussein Kalout,
pesquisador em Harvard e membro do Conselho
Brasileiro de Relações Internacionais.
Para Kalout, é impossível agora passar dois sinais:
condenar a Rússia de um lado e, de outro, manter a
parceria com Putin. Segundo ele, tal posicionamento
deixa o Brasil extremamente vulnerável.
- lsso afetará a imagem do Brasil. Bolsonaro está,
literalmente, minando a capacidade de o Itamaraty ser
respeitado como uma instituição de Estado - afirmou.