Clipping Jornais - Banco Central (2022-03-02)

(Antfer) #1
Ucrânia: é preciso refletir sobre erros do passado e do presente para
salvar o futuro

Banco Central do Brasil

Jornal Correio Braziliense/Nacional - Opinião
Wednesday, March 2, 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: JULIANO DA SILVA CORTINHAS


A invasão da Rússia à Ucrânia é, até o momento, a
etapa mais importante de um longo processo iniciado há
algumas décadas. Trata-se de um episódio que
somente ocorreu por uma combinação complexa de
fatores que, se não forem compreendidos, deixarão de
gerar lições para que a paz seja reconstruída
rapidamente e de modo duradouro. Entre as várias
causas do conflito, três são mais relevantes, sendo duas
estruturais e uma conjuntural.


A primeira é mais profunda, pois se refere ao
reequilíbrio entre as grandes potências. Os Estados
Unidos (EUA) vêm perdendo poder relativamente à
Rússia e à China. Suas incursões imperialistas mal
calculadas em várias regiões do mundo, uma sucessão
de crises econômicas e os diversos problemas em seu
sistema democrático minimizaram sua capacidade de
liderar. Em paralelo, China e Rússia veem aumentando
seu poder relativo, a primeira com base em grande
crescimento econômico, que permitiu a construção de


um aparato de defesa moderno, e a segunda por meio
da manutenção da forte capacidade militar e do
crescimento econômico por meio exportação de
commodities, o que tornou boa parte da Europa
dependente dela.

A segunda causa estrutural é a ampliação excessiva da
Organização do Atlântico Norte (Otan) em direção ao
leste. Muitos ícones do chamado 'realismo', uma das
correntes mais difundidas das relações internacionais,
avisaram sobre os riscos dessa expansão. John
Mearsheimer, Henry Kissinger e George Kennan, entre
outros, apontaram que era uma postura inadequada.
Vídeos e artigos deles prevendo a possibilidade de uma
reação russa viralizaram na internet nos últimos dias.

Além das causas estruturais, há uma mais específica. A
Rússia é comandada por um líder imperialista,
autoritário e hábil. Putin é um estrategista político e
militar competente, que se mantém no poder em um
cenário político extremamente complexo há mais de 20
anos. Essa capacidade lhe dá, na conjuntura atual,
certa vantagem em relação a líderes de países
democráticos que passam por processos de revisão de
suas políticas a cada eleição.

Em princípio, parece natural apontar que quaisquer
conflitos que envolvam grandes potências sejam
fenômenos multicausais. Apesar disso, a velocidade dos
tempos atuais, o excesso de informações, a soberba e o
despreparo está levando líderes de ambos os lados a
não compreender a complexidade da situação.
Preferem, ao contrário, visões maniqueístas em que o
lado de quem dá o discurso procura o bem, enquanto o
mal está no opositor. O resultado é uma baixa
capacidade de compreensão mútua, o que vem sendo
agravado porque muitos analistas têm repetido
acriticamente o discurso de seu lado preferido.

Para os analistas, a prática é ruim porque impede a
produção de explicações corretas sobre a guerra. O
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