É grave, mas tem solução
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Jornal Correio Braziliense/Nacional - Opinião
Wednesday, March 2, 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: FÁBIO GRECCHI
Jair Bolsonaro é cansativo de tão inepto. Quem o
escolheu conscientemente, acreditando que o Brasil
haveria de dar uma virada rumo ao liberalismo
econômico, à competência administrativa e ao
empoderamento das instituições para um combate
eficiente à corrupção, precisa se perguntar como isso
seria possível sendo ele um deputado obscuro, defensor
de pautas sem qualquer relevância- a não ser para seu
eleitorado tradicional - , além de ser saudoso de uma
ditadura que somente os incultos creem ter sido um
tempo em que a autoridade moral e a capacidade de
gestão prevaleceram. Quem votou nele
inconscientemente, levado pela onda de indignação
infantil que só fez subir desde 2013, tem tudo para
continuar cometendo o mesmo erro não porque seja
tacanho pela insistência, mas porque não faz a menor
ideia da complexidade deste país.
Aguerra da Rússia contra a Ucrânia apenas joga luz na
sobeja incapacidade de Bolsonaro. Os russos podem
ser grandes produtores de fertilizantes, mas fazer uma
viagem a Moscou apenas por causa disso não se
justifica. Até agora, tem-se uma vaga ideia da pauta
tratada entre ele e Vladimir Putin. Com presidentes
anteriores, as razões de visitas assim eram bem mais
claras. A comitiva fazia questão de passar, via
imprensa, os avanços obtidos, os acordos firmados e,
até mesmo, os pontos que precisavam ser
arredondados entre os dois lados. Com Bolsonaro, nada
disso aconteceu.
A irrelevância da viagem seria apenas razão de
especulação - entre elas, a de que parte da comitiva
esteve com o submundo cibernético russo para tornar
mais instável a democracia brasileira, à medida que as
eleições forem se aproximando e firmar-se a certeza de
Bolsonaro ser expelido no primeiro turno - não fosse a
invasão do território ucraniano, poucos dias depois. E,
como mau militar que foi, largou uma estultice quando
comentou o recuo das tropas russas com um malandro
'coincidência ou não'. A incapacidade para avaliar uma
tática de guerra apenas lhe renderam os mais deliciosos
deboches nas redes sociais.
Com a guerra, Bolsonaro deixou o Brasil em má
situação. O Itamaraty teve de dar um triplo mortal
carpado malfeito para tentar contornar a postura
presidencial errada. O estrago, porém, está aí. Para os
embaixadores de importantes países, que se reuniram
em Brasília, na semana passada, para cobrar uma
postura veemente do país, restou a certeza de que o
amadorismo arrogante é uma regra no atual governo,
capaz de contaminar até mesmo setores do Estado
habitualmente refratários a influência de palpiteiros -
como o Ministério das Relações Exteriores. Bolsonaro
deu aos representantes dessas nações a triste certeza
que muitos de nós temos: com ele, o Brasil não é um
barco desgovernado, e sim um barco cujo comandante
insiste em navegar próximo dos rochedos, apesar dos
insistentes avisos.
Isso não quer dizer que o país será abandonado no
grande jogo da geopolítica, nem deixará de ser (muito)
respeitado por suas capacidades e habilidades. É
incontestável que o Brasil está, sim, apequenado e