'Luiz Carlos Azedo - NAS ENTRELINHAS
Banco Central do Brasil
Jornal Correio Braziliense/Nacional - Política
Wednesday, March 2, 2022
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Autor: 'Luiz Carlos Azedo
A crise da Ucrânia também tem sua Quarta-Feira de
Cinzas misturar marchinha de carnaval com análise
internacional, como fiz ontem, também tem seu dia de
ressaca. Meu amigo José Luiz Oreiro, professor de
Economia da Universidade de Brasília (UnB), em seu
blog, não deixou por menos. Segundo ele, a coluna de
ontem, intitulada 'Não adianta ficar Putin, a Ucrânia já
ganhou', seria um exemplo clássico do erro que o
personagem Don Victor Corleone no filme O poderoso
Chefão 3 advertira ao seu sobrinho: 'Não odeie seus
inimigos, pois isso afeta o seu julgamento'.
Como trato os assuntos com objetividade, e não com o
fígado, vou resumir as críticas de Oreiro, que discorda
da tese de que Putin já perdeu a guerra do ponto de
vista moral e político. Oreiro argumenta o seguinte:
1- O objetivo de uma guerra não é (necessariamente)
ganhar pontos com a opinião pública mundial, ou
mostrar superioridade moral sobre o resto da
comunidade de nações, mas (i) destruir as forças do
inimigo e (ii) ocupar os objetivos estratégicos definidos
nos planos de ação militar. A Rússia, após apenas cinco
dias de conflito, chegou às portas de Kiev e Kharkiv, as
mais importantes cidades do país, praticamente cortou o
acesso da Ucrânia ao mar de Azov e está prestes a
conquistar todo o litoral da Ucrânia no Mar Negro,
deixando o país sem nenhuma saída para o mar.
2- A não ser que a Otan esteja disposta a escalar o
conflito, mandando tropas para lutar na Ucrânia, o que
converteria o confronto na Terceira Guerra Mundial, é
uma questão de tempo até que a Rússia assuma o
controle das regiões que realmente importam na
Ucrânia do ponto de vista militar. Nesse contexto, a
Rússia, não a Ucrânia, já ganhou.
3- Uma hipótese plausível é que Putin não esteja
querendo lançar, neste momento, um ataque dessa
magnitude para não criar um ressentimento incurável
entre os ucranianos. Não parece que a Otan esteja, no
momento, disposta a intervir militarmente para salvar a
Ucrânia.
4- As analogias com a Guerra do Iraque, na qual
Estados Unidos e Reino Unido concentraram forças
para um ataque arrasador, e com a retirada de
Napoleão Bonaparte da Rússia, em 1812, após a
conquista de Moscou, não têm sentido. O que poderia
levar Putin a bater em retirada seria o custo das
sanções econômicas sobre a Rússia.
5- Existe muito jogo de cena nas sanções econômicas
do Ocidente sobre a Rússia. A exclusão do sistema
Swift não atingiu os pagamentos dos países europeus
ao gás importado da Rússia, o que garante, por si só, a
continuidade de parte importante das exportações da
Rússia para a Europa. O suposto congelamento dos
ativos dos oligarcas russos atinge apenas os que eles
tenham em bancos na Europa e nos EUA, não o grosso
de suas aplicações financeiras que estão em paraísos
fiscais.
6- As sanções econômicas têm um efeito bumerangue
sobre o Ocidente: o aumento dos preços do petróleo,