Fôlego curto
Banco Central do Brasil
Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
Wednesday, March 2, 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Silvia Matos
Na próxima sexta-feira vamos conhecer o resultado do
PIB do quarto trimestre e do ano de 2021. De acordo
com as previsões do Boletim Macro IBRE, o resultado
será positivo. Podemos comemorar? É sinal de
retomada da economia brasileira após dois trimestres
de contrações moderadas? Infelizmente não.
Em primeiro lugar, já era amplamente previsto um
crescimento no último trimestre do ano, pois a
vacinação foi a principal alavanca da retomada
econômica doméstica no ano passado: o avanço
significativo da vacinação, teve repercussões positivas
sobre o ritmo e o perfil de recuperação da economia.
Apesar de todos os percalços, o processo de reabertura
econômica avançou, sem gerar um aumento no número
de novos casos e de mortes por Covid-19. Ao contrário,
o avanço da vacinação permitiu uma abertura mais
segura da economia, sem que se perdesse o controle
da pandemia.
Consequentemente, o processo de normalização da
economia seguiu em frente, ainda que com elevada
heterogeneidade entre os setores.
De fato, os setores que foram mais afetados pela
pandemia cresceram, com destaque para os serviços
prestados às famílias. Concomitantemente, porém, o
varejo e a indústria apresentam resultados negativos,
pois a expectativa era a de normalização da cesta de
consumo das famílias, com a volta da demanda por
serviços, em detrimento aos bens. Além disso, os
serviços públicos também mostraram bons resultados
no período, após recuarem muito com a pandemia. Sem
surpresas aqui.
Entretanto a nova cepa da ômicron interrompeu
temporariamente este processo de normalização
setorial, mas as expectativas, pelo menos neste front,
continuam favoráveis.
Em segundo lugar, outros fatores contribuíram para
aumentar as preocupações com o desempenho futuro
da economia. Além dos velhos desafios, o principal fator
de preocupação é a inflação, que segue muito elevada e
tem surpreendido consistentemente para cima e se
espalhado por todos os preços da economia.
A alta inflação, somada ao baixo crescimento da renda
e à piora nas condições de crédito, tem efeitos
negativos sobre o poder de compra das famílias. Os
riscos fiscais se intensificam, gerando mais incerteza.
As tensões geopolíticas apenas agravam essa
tendência doméstica negativa.
Em resumo, devemos terminar 2021 em torno de 2,5%
abaixo da tendência de crescimento pré-pandemia.
Apenas relembrado que esta tendência já era medíocre,
pois entre 2017 e 2019, a média de crescimento anual
foi de apenas 1,4% ao ano. Mas, mesmo sendo um
valor muito baixo, nem conseguimos alcançar esta
tendência anterior e já perdemos fôlego.
COLUNISTAS