Helio Beltrão - Sanção atômica' contra o agressor Putin
Banco Central do Brasil
Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
Wednesday, March 2, 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Helio Beltrão Engenheiro com especialização em
finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente
O autoritário e expansionista Putin aprontou mais uma.
Desta vez conseguiu a façanha de unir o mundo em
oposição. Não é surpresa para quem acompanha sua
trajetória. Já na sua primeira campanha eleitoral em
2000, foi questionado por uma jornalista como era ser
um candidato ex-agente da KGB. Respondeu com
sorriso malicioso: 'Não existe tal coisa como um ex-
agente da KGB'.
Sua primeira grande crise ocorreu quando 40 terroristas
tchetchenos tomaram 850 reféns em um teatro de
Moscou.
As forças especiais chefiadas por Putin empregaram
agentes químicos, que mataram os 40 insurgentes e
130 reféns, incluindo 9 estrangeiros.
Em 2003, fechou a última emissora independente de TV
e tornou ilegal que a mídia comente sobre eleições. Em
2004, passou a nomear os governadores. Em 2005,
afirmou que o colapso da União Soviética foi 'o maior
desastre geopolítico do século' Eliminou inimigos
políticos, muitos alegadamente com veneno, coagiu e
aliciou os oligarcas e colocou as principais empresas
russas sob sua órbita.
Ao menos desde 2008 Putin já vociferava que, caso a
Ucrânia aderisse à Otan, anexaria a Ucrânia do Leste e
a península da Crimeia. Crápulas costumam dar aviso
prévio do que farão, mas o Ocidente não deu bola e
preferiu peitar Naquele ano, Ron Paul, político liberal
americano, votou não'à proposta do governo Bush de
expandir a Otan alertando que 'a expansão da Otan
poderá envolver os Estados Unidos militarmente em
conflitos que não são de interesse nacional'
As seguidas trapalhadas de política externa dos
Estados Unidos e da Otan não justificam a anexação da
Crimeia em 2014, território ucraniano desde 1954. Putin
violou a soberania da Ucrânia e zombou do Direito
Internacional ao empenhar soldados sem insígnias. De
lá para cá, as hostilidades entre as partes se
acentuaram e Putin optou pela infâmia. Não creio que
Putin tenha vislumbrado a potência e extensão da
reação internacional, que desplugou a Rússia por
intermédio de uma 'bomba atômica financeira' e a
tornou pária instantaneamente
Já se imaginavam sanções a indivíduos, até agora
implementadas contra cerca de 700 oligarcas,
empresários e membros do círculo de poder, que
tiveram seus bens congelados na Europa e nos EUA.
A comunidade internacional também está
desconectando vários bancos russos do Swift, uma rede
de facilitação de transferências financeiras, composta
por 11. 000 bancos. Embora a medida não impeça que
a Rússia efetue transações internacionais, as tornará
mais custosas e trabalhosas.
Porém, a 'sanção atômica' para fechar as torneiras da
guerra e desestabilizar a Rússia financeiramente foio
congelamento das gigantescas reservas internacionais
(US$630 bilhões) do BC russo.