Clipping Jornais - Banco Central (2022-03-02)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
Wednesday, March 2, 2022
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

afetada. Ele avalia que os russos podem segurar suas
vendas para valorizar o produto, pois sabem que não há
alternativas hoje para os compradores.


'O Brasil, por ser o grande produtor do agronegócio, de
pende do fertilizante da Rússia e também da Ucrânia.
Não temos mercado alternativo. Novos embarques vão
depender do que a Rússia decidir e ela pode suspendê-
los'


No ano passado, o Brasil exportou US$ 1, 6 bilhão para
a Rússia e importou um recorde de US$ 5, 7 bilhões
(107% a mais do que em 2020), segundo o Ministério
da Economia.


Os gargalos no comércio exterior são mais um fator que
deve contribuir para a alta de preços de importados.


Economistas avaliam que os conflitos na Ucrânia
tendem a gerar um aumento da pressão inflacionária no
Brasil, o que pode levar a uma necessidade de juros
ainda maiores por parte do Banco Central, e,
consequentemente, a um crescimento menor.


Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados,
assinala que o Brasil importou cerca de 40 milhões de
toneladas de fertilizantes ao longo do ano passado.


Dessa quantia, pouco mais de 20% foi proveniente da
Rússia, aponta o economista, acrescentando que a
tendência natural é de um aumento no preço dos
insumos, frente à escalada bélica na Ucrânia e as
sanções de países do Ocidente contra a Rússia.


'A guerra na Ucrânia traz um choque que não é nada
trivial em cima de uma economia brasileira que já está
muito pressionada por uma inflação de dois dígitos', diz.


Com uma projeção de 5, 8% para o IPCA para este ano
e com uma Selic de 12, 25%, o economista-chefe
afirma que os conflitos no Leste Europeu devem fazer
com que a inflação brasileira alcance a marca dos 6%
em 2022, com uma taxa de juros que pode chegar mais
perto de 13% ao final do ciclo de aperto monetário.


Neste cenário, o crescimento da atividade econômica,
que a MB Associados já previa próximo de zero em
2022, tende a ficar no campo negativo, diz o
economista.

'Não dá para descartar que a gente tenha, de fato, uma
recessão', afirma Vale.

Ele lembra que, além da escalada dos riscos globais, é
preciso atenção também com o cenário doméstico, em
que as incertezas na política devem turvar ainda mais a
expectativa do mercado para o desempenho
econômico.

'Além da pressão de preços trazida pela alta das
commodities, a corrida por ativos mais seguros deve
favorecer uma apreciação do dólar, em detrimento a
moedas de mercados emergentes como o Brasil', diz
Alexandre Schwartsman, economista da consultoria
Schwartsman & Associados e ex-diretor de assuntos
internacionais do BC.

Embora a inflação deste ano deva ser menor do que a
de 2021, a desaceleração esperada para os preços
deve ocorrer de maneira mais lenta do que se previa
anteriormente, afirma Schwartsman.

No mais recente relatório Focus, a mediana das
projeções aponta inflação de 5, 56% no ano, com um
PIB de 0, 30% e uma taxa Selic de 12, 25%.

'Pelo andar da carruagem, não descartaria a inflação
testando níveis acima de 6% neste ano, com a
possibilidade de postergação da convergência da
inflação à meta para 2024', diz ele.

"Na importação de fertilizantes, não há alternativa hoje.
Se deixo de comprar fertilizantes, vamos ter menos
produtos para exportar, seja para a Rússia ou para
outros países"

José Augusto de Castro

residente da AEB
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