Desigualdades do clima
Banco Central do Brasil
Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
Wednesday, March 2, 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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São decrescentes as chances de a humanidade evitar
um desastre planetário decorrente da mudança do
clima, cujos desdobramentos já afetam de forma
significativa populações e ecossistema inteiros.
O prognóstico emerge da segunda parte do AR6, o
sexto relatório de avaliação do IPCC, painel do clima
das Nações Unidas -um compilado da melhor ciência
produzida sobre o tema, que busca nortear a ação dos
governos.
A primeira, anunciada em agosto de 2021, focalizara as
bases físicas da alteração climática; a atual concentra-
se nos impactos, vulnerabilidades e adaptações.
Conduzida por 270 pesquisadores de 67 nações, a
extensa revisão científica descreve um cenário de
flagrante desigualdade, em que regiões mais pobres
terminam desproporcionalmente afetadas.
Basta dizer que, de 2010 a 2020, a letalidade de secas,
inundações e tempestades em áreas altamente
vulneráveis, que incluem países da África, Ásia e
América Latina, foi de 15 vezes a verificada em nações
mais ricas. Além disso, espantosos 40% da população
mundial vive em zonas de risco, altamente suscetíveis à
mudança climática.
Se a temperatura média do mundo subir 1,5°C na
comparação com os níveis pré-industriais (o objetivo do
acordo de Paris), até 14% das espécies terrestres
correrão risco muito alto de extinção.
Ocorre que a redução de emissões proposta até o
momento implica aumento acima de 2,5°C. Nesse
cenário, quase um terço da vida sobre a terra pode
desaparecer.
E mesmo que o limiar de 1,5°C seja ultrapassado
apenas temporariamente, afirma o relatório, uma série
de danos graves e irreversíveis deve afetar de
ecossistemas à geração de energia, passando pela
segurança alimentar e pelo abastecimento de água.
Um dos ecossistemas destacados no relatório é a
Amazônia, onde o impacto das alterações do clima se
soma ao avanço crescente do desmatamento.
Incêndios, desflorestamento e períodos de seca
ameaçam transformar parte substancial da floresta
numa vegetação de campo, com repercussões
deletérias para o agronegócio brasileiro.
Apesar dos reiterados alertas do IPCC e dos efeitos já
visíveis do aquecimento global, os compromissos dos
países para reduzir suas emissões e a ajuda financeira
às nações mais vulneráveis seguem em franco
descompasso com a realidade, como se pôde constatar
mais na recente COP26.
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