VOO LIVRE REVISTA LITERÁRIA Nº 20 - EDIÇÃO DE MARÇO 2022

(MARINA MARINO) #1

detemasvariadosdentrodasvivênciastãoparticularesdessaregiãodopaís.Sãoseistambém
ospoemasdohomenageado,Apolinário,poetasantarensefalecidoem 2020.


Aobraédetamanhaimportância–alémdeagradáveleimpactanteleitura–paraadivulgação
dos poetasdeSantarém, terceiromunicípio maispopuloso doestado doParáedefundamental
importância aos brasileiros que queiram conhecera alma santarena. Mais do que isso: a alma
tapajônica.Maisainda:aalmaamazônica.Almaderioedemata,quecompõemeenriquecemnosso
país.


Palavras e Pontos com Regina Ruth

O escuro era temerário, a
imaginação ficava solta e buscava,
infalivelmente,omedo.
E assim, nessa realidade
incrivelmente simples, aos cinco anos
de idade, na avidez de descobrir o
mundo, além do compromisso das
brincadeiras de todos os dias, da
largueza, da liberdade incondicional
ondenãohaviadescansonemferiado,
realizava-se assistindo às aulas do
cursode adultosque funcionava num
salãoadoisquarteirõesdesuacasa.
Diariamente, as aulas
começavam às sete horas da noite e
terminavam às nove, razão pela qual
sempreestavaacorrerpelobreucom
oschinelosnasmãos...
Encantava-se com aqueles
homensemulheresdemodossimples,
de trajes humildes e puídos, rostos
cansados, peles maltratadas pelo sol
excessivo de anos e anos a fio, mãos
calosaseduras,masqueali,instalados
desajeitadamente naquelas velhas
carteiras feitas para crianças, ali,
naquela sala de aula, escondiam-se
atrásdobrilhodosolhosquerentespor

aprender. E a professora, paciente e

terna,decarteiraemcarteira,segurava

mão por mão, flexionava braço por
braço,punhoporpunho,ecommuito
esforçoensinavacadaumafazerum
círculo, um traço, um rabisco
funcional. E, como num milagre,
chegavaàletra“a”,“e”,“i”...Tudocomo
sefossemágica!
E nessa magia de todas as
noites,como ajudante da professora
sábia egenerosa, apagavao quadro-
negro, recolhia e distribuía os
cadernos,varriaasala,recolhiaolixo,
abriaefechavaasjanelaseportanas
noitesdechuvaeventania.Eprestava
muita atenção a tudo o que era
ensinado e falado. No final daquele
ano, quando completou seis anos,
estava alfabetizada. Lia mais
facilmente do que escrevia. Mas,
escrevia...
E,assim,omundoseabriu...
Sabia ler, e agora poderia
assistiraté àssessõesdo CineSanta
Maria! Tudo ganhara novo encanto!
Era capaz de ler todas as legendas
dos filmes estrangeiros, se bem que
muitas vezes algumas apagavam
antes que conseguisse ler tudo. Na
verdade, a leitura ainda estava um
poucolenta.
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