Cláudia - Edição 695 (2019-08)

(Antfer) #1

claudia.com.br agosto 2019 109


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ser benéficas por regular os níveis de
cortisol e tratar a depressão atípica
associada à síndrome – ela provoca
sono, compulsão a doces e sensação
de peso nos membros. Uma pesquisa
desenvolvida na Escola de Medicina
de San Diego, nos Estados Unidos,
constatou que vários metabólitos
também apresentam níveis menores
na SFC, como se o indivíduo estivesse
hibernando. Essa desordem causa uma
reação em cadeia que gera problemas
na oxigenação do sangue, nas taxas
de açúcar, lipídios e aminoácidos.
Hoje em dia, opta-se por um
tratamento multidisciplinar contra
a doença, e a terapia cognitivo-com-
portamental (TCC) é indicada como
uma coadjuvante importante. Para
Kristina, que encarou uma versão
severa da doença, a TCC ajudou a
controlar os pensamentos de deses-
pero. “A angústia é compreensível,
mas as pessoas costumam exaltar
os ‘não consigo’ e minimizam os

sentimentos do ‘consigo’ ”, escreveu.
Essa catastrofização piora o quadro
e mina as chances de melhora. Na
TCC, a pessoa aprende a notar esse
tipo de pensamento e a tirá-lo do
piloto automático. Ou seja, em vez de
falar: “Eu nunca vou me recuperar”,
optar por: “Estou trabalhando para
me recuperar”. Pode não ser fácil, mas
é decisivo para motivá-la a enfrentar
os sintomas mais debilitantes.
Os exercícios, desde que modera-
dos e graduais, também são aliados.
É claro que, para alguém que não
consegue sequer se levantar da cama,
qualquer atividade física parece fora
de cogitação. Mas isso é apenas uma
visão prévia. À medida que a medi-
cação surte efeito, iniciam-se a TCC
e um plano de atividades físicas que
deve ir se intensificando aos poucos.
Os treinos ajudam a regular os hor-
mônios desalinhados. Além disso, dão
ao paciente a sensação de ter domado
a doença, o que é essencial para um

bom prognóstico. O sono é outro as-
pecto que merece atenção. Apesar do
cansaço extremo, as pessoas afetadas
pela SFC não conseguem relaxar.
“Por isso, deve-se evitar exercícios e
estimulantes antes de dormir”, reco-
menda Roberto Heymann.
Estima-se que cerca de 50% dos
pacientes conseguem voltar ao tra-
balho; se não for em tempo integral,
pelo menos parcialmente. Depois de
ter de abandonar a arquitetura, Joyce
virou designer de joias e bijuterias –
ocupação que lhe permitiu ajustar a
carga às necessidades do corpo. Hoje,
trabalha algumas horas por semana
quando tem disposição e aceita só as
demandas que se adequam às suas
limitações. Por orientação médica,
faz exercícios físicos moderados,
procura não dormir demais e evita
atividades de longa duração. Tem
dado certo. “Sofri muitos anos com
a incerteza”, desabafa. “Agora pelo
menos sei o que tenho.”
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