Cláudia - Edição 695 (2019-08)

(Antfer) #1

claudia.com.br agosto 2019 117


Fotos


Juliana, André Thiesen Hilgert; Luciana, Lucas Landau •


Beleza


Jonatan Nogueira; Breno Melo/Capa MGT


APÓS INCÊNDIO NO MUSEU NACIONAL,
PALEONTÓLOGA SE DEDICA A RESGATAR
VALIOSO ACERVO DAS CINZAS

O primeiro encontro de Luciana Carvalho
com o Museu Nacional, instituição
ligada à Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), se deu há 27 anos,
quando ainda estudava biologia e já
estava fascinada por répteis. A princípio,
não sabia que era possível estudar os
animais pela paleontologia, mas aceitou
um estágio na área. Desde então,
não saiu mais do museu, retornando
para o mestrado e o doutorado até se
tornar professora do Departamento
de Geologia e Paleontologia. Hoje, a
paleontóloga carioca é curadora do

acervo de paleovertebrados, composto
de 12 mil fósseis de animais que
viveram há milhões de anos. A função
inclui as tarefas de zelar pelas peças
e, principalmente, estudá-las a fundo.
“Entender o comportamento desses
animais nos dá pistas sobre a história e
o funcionamento do planeta”, explica.
Cada descoberta pode representar a
chave para questões mais amplas, como
quando a cientista identificou, em 1998,
uma rara espécie de plesiossauro, o
primeiro encontrado no Brasil e que
ajuda a fundamentar a teoria de que
os continentes americano e africano
já foram unidos. Décadas de pesquisa
ameaçaram virar pó quando o palácio
que abriga parte do museu, incluindo o

LUCIANA CARVALHO | INOVAÇÃO E CIÊNCIAS


“O aprendizado


que tivemos após


o desastre no


Museu Nacional


será referência


para instituições


no mundo todo”


LUCIANA CARVALHO, paleontóloga

departamento de Luciana, foi devorado
por um enorme incêndio, em setembro
de 2018. “Eu e meus colegas entramos
em meio às chamas para resgatar o que
conseguíssemos, mas logo ouvimos o
barulho de desabamento e saímos sem
salvar quase nada”, lamenta. Logo na
manhã seguinte, com o fogo apagado,
passou a se dedicar de forma integral –
e incessante – ao resgate dos acervos.
Retirados os escombros, ao abrir os
armários de aço onde eram guardadas
as peças de que cuida, descobriu que,
felizmente, boa parte delas havia
resistido. “Ainda que danificados,
consigo identificar os fósseis”, conta.
O mesmo acontece com os acervos de
arqueologia e de meteorítica – deste
último, restaram mais da metade
das peças. Com a dificuldade de que
não há precedentes para orientar o
trabalho, o processo de restauro deve se
arrastar por anos. Apesar do desastre,
os pesquisadores se esforçam para
manter as atividades, como o projeto
Meninas com Ciência, coordenado por
Luciana, que apresenta o trabalho de
paleontólogas e geólogas a garotas
do ensino fundamental. “Mais do
que nunca, precisamos mostrar que
nossa instituição está viva e que
nosso trabalho importa.”
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