Cláudia - Edição 695 (2019-08)

(Antfer) #1
LAURA VICENTINI é diretora de marketing da
Always e Pampers para Brasil e América Latina

130 claudia.com.br agosto 2019


Garra feminina


oda vez que converso com
alguém desconhecido, meu
sotaque latino chama a atenção
e, na primeira brecha, vem a
pergunta: “De onde você é?”. Com
orgulho, respondo que sou vene-
zuelana. Nessa hora, tenho flashes
da minha história. A Venezuela é
um país caribenho com rica diver-
sidade ambiental e povo lindo. Apesar
do momento extremamente delicado
que a nação encara, as maravilhas do lugar permanecem
em minhas memórias. E, sem dúvida, dentre essas mar-
cas que minhas origens me deixaram, a influência das
mulheres é uma das mais fortes, não só pela beleza – afi-
nal, a Venezuela é conhecida como a terra das misses – mas
também por sua força.
Nas famílias, o eixo, a espinha dorsal, é a mulher. Ela
é responsável pelas decisões dentro de casa, pela dinâ-
mica dos moradores. Minha avó, mãe, irmã e minhas
amigas são meus exemplos. Vivo em constante aprendi-
zado e evolução, mas tudo que já conquistei vem da base
que tive. Meus pais nunca me limitaram. Ser mãe, me
casar e seguir as tradições do meu país sempre fez parte
dos meus sonhos, mas isso não me impediu de trabalhar,
de ter uma vida fora do lar. Fui incentivada por minha
mãe e avós a ser o que quisesse. Desde cedo aprendi que
lugar de mulher é onde as decisões acontecem e que, para
participar de algo importante, basta querer e se esforçar
para tanto. Foi assim que trilhei minha vida.
Em 2009, minha carreira me levou ao Panamá e, no
ano seguinte, me trouxe para o Brasil. Não sabia muito
bem o que esperar daqui, mas fui bem recebida e aceita.
E entendi o porquê à medida que conheci melhor as
mulheres brasileiras. Nós temos a mesma origem, a
mesma garra, a vontade de ir atrás dos sonhos e receber
reconhecimento. Semelhanças que fizeram com que eu
me apaixonasse ainda mais por este país.
Apesar de todo o suporte que recebi, ao longo da mi-
nha carreira enfrentei algumas situações difíceis, pensei
que não daria conta e até em desistir, admito. Analisan-
do várias dessas ocasiões, entendi que há vezes em que

T

nós mesmas nos limitamos e colocamos barreiras nos
próprios caminhos. E nessa autossabotagem é que mora
o perigo. Quebrei a cabeça para aprender isso e deixar de
lado a famosa síndrome de impostora, a sensação de não
ser capaz, de não merecer estar ali. Hoje tento mostrar
para outras mulheres ao meu redor que ser uma boa
profissional está relacionado a estar bem consigo mesma,
e não a abrir mão de seus objetivos. Quero ser para outras
mulheres o que minha irmã é para mim, uma inspiração,
alguém que abre caminhos.
Não tem nada de errado em trabalhar, construir uma
família e ter filhos. Como também está tudo certo se
você não quiser isso, dedicando-se apenas ao lado pro-
fissional ou só ao pessoal. Para mim, estar bem comigo
mesma e atingir os melhores resultados em todas as
esferas da minha vida significa ter um trabalho que me
traz prazer e realização e, ao mesmo tempo, não anular
minhas qualidades como mãe e esposa, estando presen-
te na rotina da minha família e acompanhando o cres-
cimento dos meus filhos.
Ter independência para tomar decisões em todos os
campos da vida também é fundamental, assim como
conseguir manter um hobby – que, no meu caso, é o
crossfit, que pratico diariamente. Para seguir essa recei-
ta, defino minhas prioridades a cada dia, os temas a que
darei mais importância e atenção e até o tempo gasto em
reuniões. A maternidade me ajudou muito nisso, trazen-
do discernimento e senso de urgência. Óbvio que nem
sempre funciona, às vezes aponta alguma ansiedade. Mas,
quando escuto meu filho dizer que tem orgulho de a mãe
ser chefe, bate um alívio e vem à tona a sensação de que
tudo está valendo a pena. Eu, por outro lado, fico orgu-
lhosa em saber que minha garra e luta não são só para
mim. Quando uma mulher vence, seja brasileira ou ve-
nezuelana, todas as outras vencem também. A luta de
uma é a vitória de todas.

Trabalho

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