Cláudia - Edição 695 (2019-08)

(Antfer) #1

Capa


Jaqueta e saia, Coven; colar, Lydia Dana

que aprender enquanto faziam, errando”, diz. “Eu
acho que Maria da Paz tomou muitos canos, ficou no
vermelho antes de ter esse sucesso todo.”
Fora o carisma de Juliana – que não é pouco –, o
ingrediente essencial que levou Maria da Paz a cati-
var o público foi a identificação imediata da maioria
das pessoas com a trajetória da personagem. “Ela tem
o espírito batalhador e empreendedor da mulher bra-
sileira, que é aguerrida, quer conquistar seus sonhos
com o próprio esforço”, afirma a intérprete, que topou
de primeira o convite do autor Walcyr Carrasco. Ma-
ria da Paz provocou em Juliana uma forte reflexão.
Ela logo compreendeu que não queria fazer a moci-
nha clichê, sofrida, que fica a maior parte do tempo
no papel de vítima. Maria da Paz é alto-astral, se le-
vanta rapidamente após uma queda e não deixa nin-
guém – nem o homem por quem é apaixonada nem a
filha – passar por cima de suas decisões. “A brasileira
não é de ficar se lamuriando. Ela faz como diz o sam-
ba: ‘Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé, manda
essa tristeza embora’ ”, recita Juliana.
Outra característica da personalidade de Maria
da Paz que Juliana quis ressaltar é a extrema hones-
tidade. “Chega a ser considerada inocente, ingênua.
Ela não tem malícia”, explica. Para a atriz, a boleira
não se deixou contaminar pela tentadora facilidade
do jeitinho brasileiro, a malandragem, que é enca-
rada por muitos como uma coisa engraçada, mas
que tem seu lado comprometedor. “Eu acho que é
uma mazela nossa. Está na hora de percebermos
que é um obstáculo que nos separa de uma socie-
dade melhor, na qual poderíamos confiar no outro
plenamente, nos empenhar sabendo que o outro es-
taria fazendo o mesmo”, diz. Chegou a se perguntar,
quando lia o roteiro, se seria possível para Maria da
Paz sobreviver ao mundo real. “Temos que discutir
por que essa transparência dela é vista como fra-
queza, por que achamos que alguém desprovido de
maldade pode ser manipulado.”

CRIADOR E CRIATURA
Juliana acumula personagens emblemáticas em seu
histórico. Interpretou Gabriela no remake da novela
baseada no livro homônimo de Jorge Amado – papel
que foi de Sonia Braga em 1975. Em Caminho das
Índias, sua primeira trama como protagonista, con-

quistou o público com o romance intenso entre Maya
e Raj (Rodrigo Lombardi). E, mais recentemente, foi
a vez de criar a espalhafatosa e ousada Bibi Perigosa,
de A Força do Querer. Mas ela jura que Maria da Paz
é o maior desafio da sua carreira. “A trajetória dela
se assemelha muito à minha”, justifica. “Ela era inse-
gura quanto ao futuro do negócio dos bolos. Quando
começamos a elaborar o salão, eu me questionava se
daria certo. ‘Será que as pessoas virão? Sairão satis-
feitas?’ É uma cabeça de empreendedora, que quer
saber como vai o caixa, que está preparada para não
tirar lucro daquele investimento por algum tempo,
até ele crescer um pouco”, revela.
Apesar de A Dona do Pedaço ter diversas outras
tramas curiosas e envolventes, Juliana viu crescer
entre seus seguidores nas redes sociais empreen-
dedores que se identificaram com Maria da Paz e
viraram fãs da boleira. “Outro dia um menino co-
mentou que abriu uma loja de cupcakes e via seme-
lhanças com ela. E uma mulher me mandou uma
mensagem emocionada falando que a trama levan-
tou a moral de boleiras e confeiteiras. É gratifican-
te”, conta a atriz.
A troca entre personagem e intérprete é tanta
que Juliana diz admirar a inteligência de Maria da
Paz e suas posturas no comando do negócio. Mas

Li muita coisa


sobre pessoas que


começaram com


uma birosca e


fizeram crescer
algo dali. Percebi

que a maioria


delas não sabia


nada de negócios,


mas seguia a


intuição


78 claudia.com.br agosto 2019

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