Viaje Mais - Edição 219 (2019-08)

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O

relógio marca 15h23. Como

há quase 100 anos, a locomo-

tiva apita, solta uma poética e densa

fumaça e os trilhos logo começam

a ranger com o suave balanço. Nas

próximas três horas e exatos 9 mi-

nutos, o percurso vai descortinar

algumas das mais impressionantes

paisagens de Portugal, onde as íngre-

mes encostas recheadas de vinhedos

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encontro às plácidas águas do Rio

Douro. Mas a grande viagem é mes-

mo no tempo – a bordo de uma lo-

comotiva a vapor de 1925, acoplada

a cinco vagões clássicos de madeira,

volta-se a um Portugal que já não

existe mais, com direito a senhores

de boina e senhoras de lenços na

cabeça tocando, em violas e sanfonas,

músicas não raro mais antigas do

que a própria maria-fumaça.

A viagem no Comboio Histórico

do Douro recria, nos dias de hoje,

aquela que agitava a região no co-

meço do século passado. O trajeto,

entre Peso da Régua e Tua, tem me-

nos de 40 km, e é agora feito num

percurso de ida e volta em clima de

festa, sempre aos sábados. Entre um

brinde de vinho do Porto aqui e os

sabores de um caramelo típico da

região ali, percorre-se com vagar as

montanhas da beira-rio, deixando

para trás pequenas vilas paradas no

tempo, quintas aristocráticas, pon-

tes majestosas. Apitos, fumaça. Da

janelinha, um mar de vinhedos sobe

e desce colinas. A paisagem, essa

pouco mudou com o passar das dé-

cadas. Ainda bem.

É assim o coração do Alto Douro

Vinhateiro, a primeira região viní-

cola do mundo a receber denomi-

nação de origem, decretada pelo

visionário Marquês de Pombal nos

idos de 1756. As plácidas águas do

rio que empresta o nome à região,

Pinhão, a cidade que

é o centro geográfico

do chamado Alto

Douro Vinhateiro

Barco rabelo, típico

da região, navegando

no Rio Douro

A velha maria-fumação

atravessa o Vale do Douro

entre Peso de Régua e Tua

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