Eva se levantou. Ainda conseguia ouvi-los. Henriette disse que o melhor seria
deixá-lo entrar e falar com ele até a polícia chegar. Do contrário, ficaria ainda mais
agressivo. Eva se afastou da porta. Aquilo não lhe dizia respeito. Não estava com
medo. Sua ficha estava em cima da mesa. Podia dar uma olhada? Ou era proibido?
De repente, ouviu uma voz nova na sala de espera, de um homem que, muito
contrariado, falava alto.
- Só quero falar com vocês, maldição!
A psicóloga retrucou que ele não podia irromper daquele jeito no consultório.
Eva abriu a pasta. Se Torben podia ler e compartilhar o conteúdo daquilo com
todos, então ela também tinha direito de fazê-lo. Seu nome aparecia na parte
superior, junto à data de nascimento. A primeira página parecia mais um resumo de
vida: a morte da mãe; a vez em que, aos cinco anos, tinha ficado perdida uma noite
inteira em Roma; a compra da casa; Martin; a demissão; a depressão. A página
seguinte continha sobretudo anotações soltas, a maioria ilegíveis para qualquer um
menos Henriette. - Eu só quero conversar, caralho! – O homem voltou a gritar na sala de espera.
Eva olhou pela janela. Duas radiopatrulhas pararam em frente ao edifício.
Continuou lendo: “Cuidado com a percepção da realidade de Eva. Possível psicose
aguda causada por trauma infantil”.