A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

leu o artigo por cima enquanto vigiava a Chefatura. Não, ele não concordava com a
raiva que aquela mulher tinha da Casa Real; claro que não. Será que a esquerdista
não entendia que a monarquia protege seu povo dos perigos externos? Em troca, os
súditos honram seu rei. Era esse o acordo. Por acaso não tinha sido Cristiano X
quem passeava a cavalo entre os súditos quando Hitler ocupou o país? Sim, e os
ataques não haviam terminado. Agora eram diferentes, e muitas vezes tinham de ser
repelidos longe da Dinamarca. Também tinha sido fora da Dinamarca que Marcus
se encontrou com a rainha, quando ela visitou a Base Aérea de Camp Bastion, no
Afeganistão. Bem, talvez fosse um pouco de exagero dizer que tinham se
encontrado. Mais propriamente, foi lá que Marcus a viu pela primeira vez. E
pensou: “Estou aqui por ela. Por ela”. Tudo o que fizeram no Afeganistão, aquela
defesa encarniçada em prol da segurança dinamarquesa, Marcus nunca teria feito
por nenhum político, por nenhum cacique social-democrata, por nenhum
fazendeiro gordo do Partido Liberal que tivesse subido mediante reuniões sindicais
e viagens de negócios com o gigante industrial Disa, por ninguém que tivesse aberto
lentamente caminho em meio a jantares e coquetéis até ocupar lugar nas altas
esferas do sistema político. É, esse tipo de gente tinha visitado as tropas no planalto
árido e poeirento da província de Helmand. Por exemplo, o ministro da Defesa –
Marcus jamais sacrificaria a vida por um ministro qualquer. Com a rainha, era
diferente. Era questão de titularidade – de assumir a titularidade. No fundo, era o
que os reis e rainhas sempre tinham feito: assumir a titularidade de seus países. E
proprietário defende a propriedade; se necessário, sacrifica-se por ela. A rainha
tinha dedicado a vida à defesa da Dinamarca. Quem além dela fazia isso? Os
políticos? A comuna que tinha escrito a matéria? Tão logo suas possibilidades de
fazer carreira se esgotavam, iam embora de bom grado para ocupar algum alto cargo
no exterior. Para eles, tratava-se tão somente do poder. Nada mais. Nenhum deles
agia por amor à pátria. Nenhum deles assumia a titularidade. Marcus balançou
negativamente a cabeça. Jornalistas. Políticos. Como Churchill disse em sua época:

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