“O melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com
o eleitor médio”. Não, Marcus não tinha dúvida nenhuma: quando a gente menos
esperasse e as coisas tornassem a ficar feias, o príncipe herdeiro seria o último a
deixar o campo de batalha. Aí, os políticos já estariam haveria muito no exílio, em
algum lugar com campo de golfe de dezoito buracos e um bar bem suprido. Só
tinham olhos para a própria carreira. Hartvig, porém, não era desses. Marcus tinha
certeza. Hartvig era servidor fiel, com vinte e cinco anos na polícia; entendia o
significado das palavras “ordem” e “estabilidade”. O celular tocou.
- Oi, Trane.
- Estou incomodando? – perguntou Trane.
- Desembuche.
- Eu me encontrei com o jornalista alemão que perguntou do nosso trabalho.
Escreve para a revista Der Spiegel. É um dos bambambãs. - O que ele quer saber?
- Para quem a gente trabalha.
- Você acha que consegue distraí-lo?
- É muito insistente. Disse que logo, logo vai postar um artigo no site. O resto
depende de nós, se estamos dispostos a cooperar ou não. - Ele sabe de alguma coisa?
- Não me mostrou nada, mas acho bom a gente cooperar e dar alguma coisa para
ele. - Não – opôs-se Marcus. – Vamos deixar que escreva o que quiser. Ele não sabe
de nada. Se soubesse, teria nos pressionado mais.
Marcus tinha saído para o sol. Desceu do carro, apoiou-se nele, fechou os olhos e
deixou que o sol o bronzeasse. Hartvig logo apareceria. Seria uma conversa curta.
Marcus a tinha repassado mentalmente várias vezes. Sabia a conversa de cor, palavra