Eva respondeu com mais uma pergunta.
- Você acha que ele se matou por qual motivo?
- Não faço a mínima ideia. Não sou policial nem psicólogo. Só sei que um cara,
correndo ontem no Dyrehaven, achou o corpo. - Mas quem disse isso?
Eva já estava mais à vontade. A única coisa que precisava fazer era parecer
enigmática. - Quem é a sua fonte na família?
- Você primeiro.
O repórter ficou olhando para Eva. Inclinou-se para a frente com uma careta que
se poderia muito bem interpretar como risada – ou como exatamente o contrário. - Ah, você não tem nada, maninha! Só que você é muito gata. Com isso se
costuma ir longe. O resto de nós não tem outro remédio senão ralar para conseguir
informação.
Ele foi embora. Eva tinha se equivocado. O encanto ameninado do repórter só
aparecia quando se acendia a luz vermelha das câmeras. Ele era duro, igual a todos
os sabujos ávidos de notícias.
Eva se aproximou do guichê de atendimento, onde estava sentado um policial
uniformizado. Era um dos mais antigos. Quantas vezes ele teria feito besteira para
acabar ali, preso numa gaiola de vidro? Teriam sido tantas quanto Eva?
“Provavelmente foram algumas mais, e não seja tão dura consigo mesma”, pensou
Eva ao se aproximar do policial a passos lentos. O que o jovem repórter tinha dito
uns momentos antes? “Você é muito gata.” Quanto tempo fazia que ninguém lhe
dizia isso? O policial olhou para Eva. Ela fingiu que o celular estava tocando. Tirou-
o da bolsa e disse:
- Sim? Consigo estar de volta à redação em uns vinte minutos.