Torben sumiu escada abaixo, e Eva, no corredor estreito, ficou sozinha frente a
frente com Anna.
- Eu só queria dizer que...
- Bem, vamos conversar no escritório – disse a subdiretora.
Eva a seguiu e sentou no sofazinho de canto.
Anna sacudiu uma garrafa térmica, mas, pelo jeito, estava vazia. - Vamos ter que apenas sonhar com café – disse.
- Eu só queria me desculpar por ter perdido a hora hoje de manhã – disse Eva. –
Não costumo fazer essas coisas. – Ficou incomodada com a situação, tendo de
sentar ali e se deixar humilhar como alguma colegial que chegasse atrasada à aula. - Também deve ter sido uma mudança enorme para você – disse Anna, que
continuava sem sentar, o que contribuía para que a situação fosse extremamente
incômoda. – Eu entendo. - Mudança?
- É, na sua vida. De repente, voltar a trabalhar, ter que chegar na hora certa,
assumir compromissos. - Isso não é problema nenhum para mim.
Foi interrompida por vozes que vinham do corredor, vozes de um homem e uma
mulher. A porta não estava fechada, e Eva vislumbrou uma mulher de cabeleira
loira que usava sapatos de salto alto, talvez Louboutin. Era Helena, a dama de
companhia. Eva, para enxergar melhor, inclinou-se ligeiramente para a frente.
Helena levava na mão uma bolsa. Olhou para o escritório de Anna e viu primeiro
esta e depois Eva. Seus olhos pareciam cansados, chorosos; não era de estranhar, o
irmão tinha morrido fazia um dia, ou dois, e Helena tinha recebido um torpedo de
suicídio. “Será que ela está com o celular?”, pensou Eva, e no mesmo instante se deu
conta de que uma ideia, um plano, se formava em sua cabeça. Claro que a dama de
companhia estava com o celular. Talvez Eva pudesse... - Suponho que também deve ser muito diferente do que você está acostumada a