– OK.
Eva considerou se levantava ou não. Anna permaneceu de pé, como se não tivesse
terminado. Continuavam ouvindo a criança chorar, talvez gritar.
- Você e a Sally se dão bem? – perguntou. – As coisas rolam direitinho entre
vocês duas?
Eva fez que sim e disse: - Rolam. Ela é muito simpática e muito boa na hora de me ensinar o jeito de
fazer as coisas. Ela é muito boa em...
A porta se abriu. Era Torben, totalmente fora de si. Helena estava logo atrás dele.
O choro do menino se intensificou; ele agora gritava. - Houve um acidente! – disse Torben.
- Acidente?
Anna saiu para o corredor, deixando Eva no escritório. - Acho que foi com a Esther. Ela está sangrando. Você pega o estojo de primeiros
socorros?
Anna deu uma olhada rápida para Eva antes de sair correndo atrás de Torben.
Eva ficou sentada um instante, deixando que a preocupação instintiva pela
menina desaparecesse e fosse substituída por uma sensação egoísta de alívio: pelo
menos não a tinham demitido. Continuava tendo emprego. Ouviu Anna e Torben
sumirem corredor abaixo e viu que Helena ia atrás deles, sem o casaco e sem a bolsa.
Esther tinha parado de berrar. Eva escutou o ruído de tubulações oxidadas debaixo
do telhado, um ligeiro zunido, mais vozes infantis que vinham das salas de aula. A
porta do escritório de Torben estava fechada. Será que ele a tinha trancado? Eva
segurou a maçaneta. A porta se abriu com elegância, fácil e silenciosamente, quase
como se convidasse Eva a entrar. A bolsa de Helena estava numa cadeira. Era uma
Birkin de couro de cobra. Eva tinha visto outra igual só uma vez na vida, quando,
poucas semanas depois de ter começado a trabalhar no Berlingske, entrevistou a
milionária Janni Spies. Se a bolsa era original, podia facilmente custar mais de cem