mil coroas. Eva a abriu. O celular estava lá dentro? Não. A decepção lhe veio como
uma sensação física. E aí acabou por se questionar. O que alegaria se a
descobrissem? Procurou depressa alguma explicação que justificasse o fato de que
estava no escritório de Torben fuçando uma bolsa que não era sua; não encontrou
nenhuma. Bem, talvez uma: que merecia a bolsa. Depois de tudo o que tinha
aguentado, a decadência que tinha vivido nos meses anteriores a levara àquilo, a essa
bolsa que valia mais de cem mil coroas. Era uma chance, e fazia muito tempo que a
maldita vida não lhe proporcionava uma. Chance? Para fazer o quê? Pela janela,
olhou para o parquinho. Estavam alvoroçados lá. Alguns pequenos estavam em
lágrimas. Fixou-se de novo na bolsa. Sim, concluiu, era uma chance, no sentido
mais amplo da palavra – a chance de averiguar o que tinha acontecido ao tio de
Malte antes de ele ter enfiado uma espingarda de caça na boca; a chance de ser
despedida; a chance de dar com uma história. Reparou no compartimento lateral
da bolsa. Abriu o zíper. Lá estava o celular. Eva pegou o iPhone novo, de metal frio.
“Digitar código.”
- Merda! – sussurrou Eva, e depois pensou: “É óbvio que está bloqueado, como a
maioria dos celulares costuma estar. E, sem dúvida, os das damas de companhia têm
os números privados de Suas Altezas na memória”. Que diabos tinha imaginado?
“Digitar código.” Eva tornou a ver aquelas palavras irritantes. Ouviu vozes na
escada, as vozes de Torben e Anna. Enfiou o celular no bolso e se apressou a sair e
fechar a porta. Safou-se por um triz. - Disseram que iam demorar quanto tempo?! – perguntou Torben, fora de si.
- Ligaram faz três minutos, devem estar chegando – respondeu Anna.
- E quem vai acompanhá-la?
- A Mie.
Entraram no escritório de Torben.
Eva desceu a escada, e Helena passou por ela em sentido contrário, rumo ao
escritório de Torben. “Agora ela vai descobrir”, pensou Eva. “Já, já, vai ver que