companhia. Pelo menos, tinha um bom candidato para fazer aquilo. A questão era
saber se ele concordaria. Rico Jacobsen era um velho amigo. Não, amigo não,
corrigiu-se. Sem dúvida, seria mais acertado dizer que se tratava de um conhecido.
Tinham sido da mesma turminha na faculdade, ele provavelmente um pouco mais
apartado dos restantes; tinham ido às mesmas festas, frequentado os mesmos bares,
conversado. Era alguns anos mais velho que ela e tinha fama de ser um dos sacanas
mais carne de pescoço da imprensa sensacionalista. Havia escrito muito sobre as
gangues de motoqueiros e, por isso, tinha vivido sob proteção policial. Era mais
inteligente que a maioria; às vezes divertido, às vezes desagradável; e, para ser
sincera, bastante atraente. Havia muita gente que não ia com sua cara, mas ele não
parecia se importar muito com isso; ou, pelo menos, era o que dava a entender.
Fosse como fosse, não fazia esforço nenhum para ser popular. Eva logo achou um
telefone do Ekstra Bladet. Perguntou por Rico Jacobsen. Uma moça quase
cochichou do outro lado da linha, e Eva, por um instante, pensou em lembrá-la de
que não era telefonista de bordel. Depois esperou só um segundo, até que Rico
atendeu.
- Alô; Rico falando – ele disse, num tom que não era nem amável nem o
contrário.
Primeiro impulso: desligar. Parar antes de chegar a águas mais profundas, onde
não conseguiria se manter à tona. - Meu nome é Eva Katz – acabou dizendo. – Eu e você cursamos uma matéria
juntos na faculdade de jornalismo. - Eva?
Na voz dele, Eva sentiu duas coisas: assombro e reconhecimento. Esse último
facilitou consideravelmente as coisas e lhe deu ânimo para seguir adiante. - Você se lembra de mim?
- E por que não me lembraria de você?
- Você poderia me dar uma mão numa coisa?