Klareboderne, centro de Copenhague – 18h45
Eva nunca tinha gostado do Bo-Bi Bar, ainda que fosse o mais antigo da capital.
Ora, nem se fosse o bar mais antigo do mundo! Fumaça, cerveja só de garrafa (e só
na garrafa, sem copo), e a única coisa que havia para comer era ovo cozido. Os
colegas dos tempos em que ela trabalhava ali perto, no Berlingske, tinham uma ideia
muitíssimo romântica do lugar. Diziam que, quando se era jornalista de verdade,
frequentava-se o Bo-Bi. Ali eles se juntavam a poetas, escritores, artistas e gente que
pretendia mudar a sociedade. Mas a única coisa que Eva via era gente que
desfrutava o alcoolismo das bebedeiras românticas, como se levar uma vida
desregrada, fumar e beber favorecesse a criatividade.
O garçom interrompeu aqueles pensamentos ácidos.
- Em que posso servi-la?
- Você pode me trazer uma salada de queijo de cabra com pinoli e um copo de
chardonnay? – disse Eva, com cara muito séria.
Por um instante, o garçom a olhou com desconfiança, e logo depois caiu na
gargalhada, mostrando uma língua quase negra. “Tingida de cerveja preta, cigarro e
fumo de mascar”, pensou Eva, e se rendeu com um sorriso. - Agora a sério. Vocês já evoluíram o suficiente para que a gente possa pedir um
copo de vinho branco? Ou isso é frescura demais? - Um copo de vinho para a moça – disse o garçom.
Eva procurou Rico com o olhar. Mesmo que tivessem se passado muitos anos,