estava convencida de que seria fácil reconhecê-lo pela autoconfiança que se refletia
em seus olhos, pela fisionomia que irradiava “eu contra o resto do mundo”. Na
faculdade, Eva tinha estado a ponto de ir para a cama com ele, e Rico havia
insistido. Seria por isso que ela acabou dando para trás?
Havia dois homens sentados a uma mesinha, bem ao lado da porta. Por que
reparou neles? Teria sido porque um deles tinha levantado a vista e olhado para Eva
quando ela entrou? Não. Isso era o que a maioria dos homens do bar fazia, olhar
furtivamente para ela. Tinha reparado nos dois por causa do aspecto – o cabelo
extremamente curto, a pele saudável e bem cuidada, a extrema boa forma. Pareciam
militares. Não tinham jeito de quem frequentava o Bo-Bi, ou talvez a freguesia
houvesse mudado desde a última vez que Eva estivera ali. O garçom deixou o copo
de vinho no balcão.
- Obrigada – disse Eva.
Pegou o celular. Nenhuma mensagem de Weyland. Eva tinha prometido que
checaria algo sobre o quadro e que ligaria ou mandaria mensagem para dizer se era
roubado, se valia muito dinheiro. Tratava-se mesmo de uma obra de arte? Todo
mundo sabia a grande quantia que algo assim podia valer. No divórcio, quem ficava
com o dinheiro dos quadros pendurados nas paredes? Eva bem podia imaginar
aquilo, as desavenças, toda a encrenca. Sorriu, balançando negativamente a cabeça.
Será que se tratava mesmo de algo tão simples? Bebeu um gole de vinho branco e,
na internet móvel, começou a ler sobre Metternich, o homem retratado no quadro
que tinham tirado da parede da casa de Christian Brix. Era um estadista do século
XIX, ministro do Exterior, em muitos aspectos o homem que então governava o
Império Austríaco. “O criador da Santa Aliança”, leu.
- Ah, agora reconheço você.
A voz vinha de trás. Eva se voltou. Lá estava Rico, e ele continuava igual – cabelo
curto e grosso, olhos intensos por trás de uns óculos à John Lennon, barba de três
dias, blazer azul de uma grife cara que o distinguia e o colocava acima da freguesia