habitual do Bo-Bi.
- Rico! – disse Eva, e se levantou. – Desculpe-me o incômodo, e obrigada pelo
seu tempo. – Abraçou-o. Supôs que, se a mão dele lhe roçou a bunda, foi apenas por
acaso. - Quando você aceitou que a gente se encontrasse no Bo-Bi, achei que tivesse
virado jornalista de verdade – disse Rico, e sentou com um sorriso nos lábios –, mas
o vinho branco a denuncia. - Acho que nunca vou conseguir ser jornalista do jeito que você entende o termo.
O garçom os interrompeu. - Rico?
- O de sempre. E dois ovos cozidos.
- Yes, sir.
Rico estava com a pasta no colo. Tinha envelhecido desde os tempos em que
ambos estavam na faculdade de jornalismo. Mas continuava tendo os mesmos olhos
escuros e ligeiramente fundos. Eram olhos que a tinham atraído e assustado ao
mesmo tempo. Por um lado, eram vorazes, ávidos, não só de Eva, mas de tudo –
sabedoria, poder, influência e mulheres de menos de quarenta anos. Por outro,
tinham um quê de muito antigo; não tínhamos nenhuma vontade de que aqueles
olhos velhíssimos sacassem o que nos andava pela alma. Talvez por isso tivesse
faltado coragem a Eva para se envolver com Rico. - O que posso fazer por você, Eva?
- Você consegue desbloquear um celular?
- Está falando do quê?
- É um iPhone. Ela botou senha de acesso.
- Ela? Ela quem? O que acontece?
- E isso interessa? Eu pago, não se preocupe.
Rico a encarou durante alguns segundos e depois baixou os olhos.
Tinha dito alguma coisa de que ele não gostou, Eva percebeu de imediato. “O