A Santa Aliança

(Carla ScalaEjcveS) #1

lance de pagar”, pensou. Aquilo provavelmente não significava grande coisa no
universo dele.



  • Rico?
    Ele ergueu os olhos.

  • Desculpe-me. Podemos começar de novo?

  • Podemos, com um brinde – disse. – Já faz um dia inteiro que não bebo, o que,
    acredite ou não, é um recorde nestes tempos bicudos.
    Rico sorriu. O garçom colocou diante dele uma cerveja Carlsberg e uma dose de
    aquavit. Os dois ovos cozidos vieram envoltos num guardanapo e acompanhados
    de um pratinho de sal grosso. Rico ofereceu um a Eva. Ela aceitou, pôs sal e pensou:
    “Talvez não esteja tão ruim, apesar de tudo”. Deu uma mordida. O gosto era bom, e
    não tinha comido nada desde a hora do almoço.

  • Saúde – disse Eva. – Pelos velhos tempos.

  • Saúde – respondeu ele.
    Eva lhe perguntou da vida. Rico estava divorciado e tinha um filho de três anos,
    que via a cada dois fins de semana; a mãe do menino também era jornalista,
    trabalhava para um sindicato e – Rico disse com algo que talvez se pudesse
    interpretar como um sorriso – tinha lhe parecido muito gostosa na noite em que
    foram para a cama pela primeira vez, embora depois se revelasse uma completa
    neurótica. Eva lhe contou que tinha sido despedida do Berlingske.

  • Você não foi a única! – disse Rico, e enumerou a grande quantidade de
    jornalistas que estavam sem trabalho. Eva não se orgulhava de reconhecer, mas o
    papo sobre as desgraças dos colegas teve efeito ligeiramente alentador sobre ela –
    não era a única em processo de reinserção no mercado de trabalho.

  • Bem, agora me fale desse seu iPhone – disse ele, de súbito impaciente.

  • Não é meu.

  • Isso eu já supunha.

  • Confidencialidade?

Free download pdf