se inclinou sobre Eva; aproximou o rosto do dela. Eva conseguia sentir o cheiro do
estranho. E agora? O homem tinha se afastado. Levantou-se. Distanciou-se.
Estavam procurando algo específico. Algo que não haviam achado, disso Eva não
tinha mais dúvida. Pressentiu o descontentamento deles quando voltaram para a
sala. Passaram a seu lado e sumiram. Silêncio. Estava sozinha? Ficou uns minutos
prestando atenção, quase querendo que voltassem. Iam deixá-la sozinha ali, deitada
no chão? Não conseguia se mexer. Quando viria alguém? Fez uma estimativa. No
dia seguinte de manhã, não compareceria à creche, mas tampouco telefonariam;
eles se limitariam a marcar sua ausência, achando que estava doente ou que, tão
somente, tinha ficado em casa sem outro motivo, que era uma das que
simplesmente vão a pique. O pai ou Pernille telefonariam ao longo do dia, talvez
quando a tarde já estivesse bem avançada. É. Ficaria deitada ali quase vinte e quatro
horas. E o que aconteceria quando o pai não conseguisse falar com ela? Porque ele
não viria à casa dela talvez até um dia depois. Ela aguentaria tanto tempo?
Conseguiria sobreviver duas noites e dois dias sem se mexer, só com o pouco de ar
que respirava pelo nariz? Sem água, sem...
Tentou virar-se, mas a pele do pescoço doía. Estava deitada sobre o lado esquerdo.
Seria capaz de se virar para o direito sem que a cordinha apertasse demais? E por
que estaria melhor do lado direito? “Pense, Eva, pense!” Ela tentou. Pensou na
morte, nas crianças do Pomar das Macieiras, em Malte, no desenho que talvez fosse
de um assassinato. Que importância tinha isso para ela? O tio do menino podia até
ter merecido. Não. Eva acreditava no sistema judicial. Ninguém merece ser
assassinado. Bem, talvez. Mas, em todo caso, era melhor não fazer isso; era
preferível castigar com penas de prisão, e talvez o tio de Malte nem isso merecesse.
Eva respirou fundo, pelo nariz. O muco dificultava. Eva então fez uma coisa que,
para seu alívio, ninguém podia ver: assoou o nariz. O muco ficou pendendo dele,
mas assim era mais fácil respirar. Estava com as coxas ensopadas; até aquele
momento, não tinha se dado conta disso. Tinha urinado de medo. “OK, Eva. Aí
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1