Eva se virou e empurrou as pernas para a direita. A corda apertava mais do que
esperara. Ficou sem ar, sua pele ardia. Por um segundo, pensou em desistir e virar-se
para o lado direito. “Não, vamos lá, merda!” Deixou as pernas caírem. Durante
alguns instantes, ficou retomando fôlego. Alguma coisa lhe escorria pelo pescoço –
sangue. A corda tinha cortado a pele. Estaria sangrando muito? Será que se esvairia
em sangue? Tinha chegado ao fogão. Comprimiu o corpo contra o aço frio. O saca-
rolha estava ali debaixo. Tentou alcançá-lo; tocou-o com a ponta dos dedos.
Aproximou-o. Estava com ele na mão. E agora? O saca-rolha tinha, acoplada, uma
faquinha. Martin costumava usá-la para cortar o lacre de metal no gargalo. Eva
levou certo tempo para abrir a faquinha com as unhas. O saca-rolha caiu duas vezes,
e ela precisou fazer muito esforço para recuperá-lo. Que horas eram? Estava no
chão havia quanto tempo? Não tinha importância. Notou uma coisa molhada no
chão. Por um instante, achou que fosse água; mas era pegajoso demais. Será que a
corda estava aos poucos chegando à aorta? Ficou imóvel durante vários minutos,
mas o sangue continuava a minar do seu pescoço. Sentia que ele escorria devagar
pelo pé. Precisava agir mais depressa. Agarrou o saca-rolha, apalpou com o polegar a
lâmina da faquinha, para ter certeza de que estava virada para o lado certo, e
começou a cortar a corda. Esta resistia; possivelmente era de náilon, resistente e
sólido. A lâmina lhe escapou várias vezes. Por fim, a corda cedeu. Eva ficou até
surpresa. A corda soltou-se do pescoço, e ela pôde esticar as pernas. Levou-as ao
peito, como um bebê, e passou as mãos por baixo dos pés. Já não estava com as mãos
às costas. Tirou a fita adesiva da boca e dos olhos, respirou fundo, apalpou o
pescoço. Não estava sangrando aos borbotões. Com essa certeza, tirou uma faca
maior da gaveta. Primeiro, cortou a braçadeira dos pés. Depois, colocou a faca entre
os joelhos e, com força, friccionou a braçadeira dos punhos contra a lâmina, até se
soltar.
- Ela sumiu.
A voz sussurrante que vinha da sala deixou Eva sem fôlego. Tinham voltado, e