Hareskoven, Grande Copenhague – 5h50
Durante quase uma hora, da beira da floresta, Eva tinha vigiado a casa. Não havia
nenhum furgão escuro na rua, mas podiam perfeitamente continuar dentro da casa.
Só havia um jeito de averiguar – entrando.
Escolheu a trilha que se estendia pela margem do lago e que a levou até os fundos
da casa. O portão estava aberto. Não se lembrava de tê-lo aberto. Não passava
muito tempo no jardim. Jardim não era coisa de mulher sozinha. Jardim era algo
que Deus tinha reservado para a família e para o que vem imediatamente antes da
família – os namorados, os noivos. Comprimiu as mãos contra a vidraça e olhou o
interior da sala. Não havia ninguém. A porta estava trancada. Pensou: “Consigo ver
todos os cômodos do térreo menos o quarto”. Deslizou pelo comprimento da casa e
olhou através da janela da cozinha. Pela do porão, viu as caixas da mudança e as
antigas anotações de faculdade, que continuavam abertas no trecho em que ela
falava mal do jornalista de meia-idade. Ele também tinha falado mal de Eva.
Continuava não sendo capaz de lembrar o nome do homem. Bergstrøm? Não, não
era isso, pensou, e olhou pela janela da fachada. Olhou o interior do monstro. “As
casas são monstros”, pensou. “É. Nós nos engaiolamos com todas as esperanças que
depositamos na vida, com nossas ideias fixas de como as coisas devem ser, e ficamos
lá.” Talvez esse pensamento a tenha impelido a enfiar a chave na fechadura – na
fechadura do monstro. Sabe-se lá em que ela e Martin teriam se transformado ali
dentro. Provavelmente teriam tido filhos, tal qual haviam combinado. O que