Helena e Malte esperavam em frente à catedral. Helena segurava Malte pela mão.
Quem era o homem do outro lado do menino? Provavelmente o pai de Malte.
Com o cabelo preto e penteado para trás, era alto, empertigado e aristocrático. Não
tinha curativo na mão. Talvez ela estivesse enganada. Talvez o ferimento já tivesse
sarado. Nesse caso, precisaria procurar um homem com marca na mão. Não,
qualquer um esconderia a mordida até cicatrizar. Outro grupo tinha se reunido
perto de uma das torres: um grupo de aposentados com crachá. Eva não se
encaixaria muito bem entre eles. Vários tinham câmera pendurada no pescoço e
formavam um círculo em volta de um homem que usava camisa branca amarrotada.
Uma visita guiada à catedral? Podiam fazer isso enquanto se oficiava um serviço
fúnebre? Talvez. A catedral era enorme. De resto, era a única possibilidade de Eva.
Se conseguisse se misturar aos turistas e entrar de fininho... Desceu do carro
justamente quando o guia disse alguma coisa e os velhos começaram a andar. O que
ele tinha dito? Sem dúvida, que não dispunham de muito tempo, que precisavam
sair quando começasse o serviço fúnebre, alguma coisa assim. Eva respirou fundo.
Torcia para que os óculos escuros lhe cobrissem boa parte do rosto. Agora! A porta
do pórtico estava aberta. Eva se enfiou discretamente entre os aposentados. Por
fragmentos de conversa, entendeu que a visita guiada estava programada havia
meses, mas que a morte não respeitava nada nem ninguém. Alguns velhos riram; os
restantes pareciam tristes com a ideia de uma morte desrespeitosa. Eva procurou
manter o olhar fixo nas pedras desgastadas do piso diante de si. “Evite encarar”,
murmurou uma voz em sua cabeça. “Baixe os olhos.”
A Catedral de Roskilde contava melhor que a maioria das igrejas a seguinte
história: Deus é grande, é maior que todos nós e, sobretudo, é dinamarquês. Disso
não havia dúvida; por mais que o estilo arquitetônico fosse importado, gótico, os
tijolos eram inequivocamente nacionais, vermelhos, do mesmo tipo que se usava